Publicado por Redação em Previdência Corporate - 28/09/2015

Com Cautela e Planejamento é Possível Enfrentar a Crise

Reinaldo Domingos é o nosso entrevistado deste domingo (27)

O REGIONAL – A crise econômica tem atingido a todos, qual a principal dica para evitar o endividamento?

Domingos – Seguem cinco orientações para mostrar que, com cautela e planejamento é possível passar por esse período com educação financeira e não comprometer a vida financeira.

Livre-se das dívidas – pode parecer que não, mas é exatamente em períodos de crise que os credores estão mais dispostos a negociar as dívidas, podendo estas chegarem a valores bem menores do que atualmente estão e ainda serem pagas em condições melhores. No entanto, as pessoas devem entender que essa é apenas uma maneira de resolver a consequência do problema, algo pontual, e não a causa dele. Para isso, a primeira atitude é adequar-se ao seu padrão de vida, que passa por uma mudança de comportamento, obtida com educação financeira.

Hora de faxina financeira – de 20 a 30% das despesas domésticas são supérfluas, o que mostra que há uma boa margem para reduzir e até cortar gastos. Para que possa avaliar para onde está indo cada centavo do dinheiro e fazer essa adaptação, é importante realizar um diagnóstico financeiro 30 dias, separando os gastos por tipo de despesa. Esse controle não deve ser feito por mais de 90 dias (para aqueles que possuem ganhos variáveis, por exemplo), pois, quando vira rotina, perde a eficácia.

Sonhe mais – não é porque a situação não anda boa que vai deixar os sonhos de lado. Arranje um tempo para listar os objetivos materiais, até mesmo para ajudar a evitar o endividamento inconsciente. Reúna a família e conversem sobre os sonhos individuais e coletivos de curto (até um ano), médio (de um a dez anos) e longo (acima de dez anos) prazos, pesquisando para saber quanto custam e analisando o orçamento para saber quanto poderão poupar por mês para essa finalidade.

Mude o formato de seu orçamento - um erro comum é pensar que orçamento financeiro familiar consiste em registrar o que se ganha e subtrair o que se gasta e, caso sobre dinheiro, será lucro, se faltar, prejuízo. A forma correta, no entanto, consiste em, primeiramente, elaborar o registro de todas as receitas mensais, posteriormente, separar os valores pré-definidos para os projetos da família e, somente com o restante, adequar os gastos da família. Isso forçará um ajuste do padrão de vida familiar para conquistas financeiras.

Chegou a hora de saber investir – com a alta de juros, agora, é um bom momento para quem que investir, contudo, o grande erro que observo é a ideia de poupar sem motivo e buscar sempre o melhor rendimento. No mercado financeiro, existem diversas opções de aplicação em ativos financeiros com riscos diferentes. A orientação é procurar variar o investimento de acordo com o tempo que utilizará o dinheiro. De forma geral, o risco de uma aplicação financeira é diretamente proporcional à rentabilidade desejada pelo empreendedor, ou seja, quanto maior o retorno estimado pelo tipo de aplicação escolhida, maior será o risco, por isso, é preciso cautela.

O REGIONAL – O senhor também é escritor do best-seller “Terapia Financeira”. Quais os principais tópicos apresentados no livro ?

Domingos – Em Terapia Financeira, apresento a metodologia que desenvolvi a partir de minha experiência pessoal, para ajudar as pessoas a lidar de maneira saudável com suas finanças, a fim de conquistar o equilíbrio e a independência financeira e viabilizar seus sonhos. Este livro foi meu primeiro publicado, o que serviu de base para todas as minhas outras obras e para a minha missão de disseminar a educação financeira, por meio da Metodologia DSOP. Essa metodologia é apresentada no livro e tem como pilares Diagnosticar, Sonhar, Orçar e Poupar. Na obra também apresento uma nova forma de fazer um orçamento financeiro, dentre outros temas.

O REGIONAL – A compra parcelada deve ser evitada?

Domingos – A compra parcelada significa ter dívidas, no entanto, o endividamento inconsciente é que deve ser evitado e combatido. Não há nada de errado em ter dívidas, principalmente se for para investir em educação, especialização e assuntos de necessidade, como vestimenta para a família, dentre outras coisas. Agora, a compra parcelada feita por impulso e para supérfluos deve sim ser evitada, pois pode levar a sérios problemas financeiros, que podem demorar muito tempo para se reverterem.

O REGIONAL – A crise deve terminar no final deste ano?

Domingos – Infelizmente não devemos ter essa expectativa, pois, acredito que teremos que passar por reflexos do que estamos enfrentando agora por um longo período.

O problema é que não existe um único motivo para a crise, nem mesmo uma única solução, assim, é especular afirmar um prazo, pois dependerá do posicionamento do Governo Federal (incluído a possibilidade de Impeachment), apoio do Congresso, economia mundial, posicionamento do empresariado e até a mudança do clima negativo que tomou conta da população. Acredito que nossa completa recuperação só se dará em cerca de oito anos. Contudo, vejo que já estamos em um dos piores momentos dessa crise, assim, a perspectiva é de melhoria. Contudo é fundamental que a população se prepare e, principalmente, se eduque financeiramente, pois só assim passará sem maiores tropeços pelo período e até mesmo fortalecido.

O REGIONAL – Qual o parâmetro que o senhor faz da real situação econômica brasileira? Por que chegou a esse ponto?

Domingos – Eu, normalmente, sou contra apontar culpados para as situações. Acredito que nosso foco no momento deva ser a busca por soluções, contudo, não há como negar que ocorreram grandes erros na política econômica, que não soube aproveitar o período de crescimento da economia de forma inteligente e sustentável. Em busca de ações populistas ocorreram muitas falhas. Isso sem contar os problemas com corrupções, que já está enraizado em nossa cultura, mas que vieram à tona nesse momento, piorando ainda mais o clima desfavorável. Outro ponto que levou a essa situação e que por muito tempo aponte como um fator de risco foi a explosão de consumo. Vendeu-se a ideia que a população podia consumir sem limite, que ainda se podia tomar crédito desenfreadamente, esqueceram de mostrar que o consumo deve ser consciente. E o reflexo disso é situação de endividamento que grande parte da população se encontra e a estagnação do consumo. O problema é que com a alta de juros, de impostos, do desemprego e da inflação, essa situação se agrava ainda mais. Estamos em uma verdadeira ‘sinuca de bico’, na qual devemos rever muito do que foi feito, contudo, existe vontade política para isso?

O REGIONAL – Guardar o dinheiro na poupança, neste período, pode apresentar algum perigo?

Domingos – Sim, por mais que a poupança continue sendo uma aplicação rentável e segura, sua rentabilidade não é muito boa. Na verdade, o que acontece é que, com a Selic acima de 14% a.a., essa modalidade não se mostra interessante, por possuir gatilhos que limitam o seu rendimento à taxa básica de juros. Por isso, ela só deve ser pensada para investimentos de curtíssimos prazos, até seis meses, uma vez que o investidor terá a disponibilidade de retirar sem pagar taxas, imposto de renda ou perder rendimentos. Nesse momento, outras opções têm melhores rendimentos, como títulos de Tesouro Direto.

O REGIONAL – Para poupar a longo prazo, a previdência privada ainda é uma melhor opção? Qual a sua indicação?

Domingos – A previdência privada é sim uma ótima opção e é muito indicada para quem está se programando principalmente para a aposentadoria. Há outras boas também para longo prazo, como títulos do Tesouro Direto e até mesmo ações da Bolsa. No caso de investimento em ações, o melhor é investir no máximo 20% do dinheiro total com essa finalidade, isto porque existe grande risco por depender do desempenho da empresa na qual investe, e buscar auxílio de especialistas no assunto.

O REGIONAL – E para quem está endividado, qual a melhor forma para tentar sair delas?

Domingos – A melhor maneira de se livrar das dívidas é manter a calma e não agir por impulso. É preciso ter total ciência das dívidas e tentar renegociar esses valores com o credor, antes de qualquer coisa. Só então começar pra valer o processo para quitar as dívidas. O endividado deve seguir 4 passos: Diagnosticar: anotar, durante 30 dias, cada gasto, separando por categoria, por exemplo, alimentação, transporte, vestuário, educação, guloseimas, etc.. Dessa forma, fica mais evidente onde está havendo desperdício.

Sonhar: estabeleça sonhos, sendo que, nesse caso, um deles deve ser o de sair das dívidas (mas não pode ser o único, se não vai viver para pagar dívidas. São os sonhos que nos movem e nos dão força para continuar).

Orçar: saiba exatamente qual o valor de cada dívida, os juros que está pagando, os prazos, etc.. Após negociar, veja quanto ainda precisa pagar e qual a condição.

Poupar: com os números da sua vida financeira em mãos (feito no diagnóstico), poupe parte do que conseguiu eliminar dos gastos do dia a dia para conseguir quitar (ou reduzir) as dívidas.

QUEM É

Reinaldo Domingos é educador financeiro, presidente da Associação Brasileira de Educadores Financeiros (Abefin), da Editora DSOP e da DSOP Educação Financeira e autor do best-seller Terapia Financeira, do lançamento Mesada não é só dinheiro, da primeira Coleção Didática de Educação Financeira do Brasil, dentre dezenas de outras obras relacionadas ao tema.

Fonte: Jornal O Regional


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