Publicado por Redação em Notícias Gerais - 30/07/2015

Generoso ou dependente?

Existem pessoas que se dedicam compulsivamente a ajudar e a resolver os problemas dos outros, mas, às vezes, essa atitude esconde outra faceta

Há pessoas que passam a vida pensando mais nos outros do que em si mesmas. Seres humanos extremamente empáticos e solidários, cuja vocação consiste em ajudar os demais. Na realidade, muitos profissionalizam essa pulsão inata com a qual nasceram tornando-se médicos, enfermeiros, psicólogos, assistentes sociais e voluntários dedicados a alguma causa humanitária. Em muitos casos, inclusive, aproveitam as férias para trabalhar em alguma ONG para ajudar os mais pobres e desfavorecidos.

Em seu âmbito familiar e social, por exemplo, costumam ser a referência à qual o resto dos amigos recorre quando têm algum contratempo, problema ou penúria. São os primeiros a ir ao hospital quando alguém que conhecem acaba de ser operado, está doente ou sofreu um acidente. Também dão uma mão quando alguém precisa de ajuda para mudar de casa.

Todos eles costumam ter como inspiração exemplos como a madre Teresa de Calcutá e Vicente Ferrer, e consideram que o mais importante na vida é ser "uma boa pessoa". Por isso, acima de tudo, se comprometem com a generosidade, com o altruísmo e com estar a serviço dos demais. No entanto, esse comportamento, aparentemente impecável, pode esconder um lado obscuro. Cedo ou tarde se chega a um ponto em que a compulsão por ajudar termina cobrando seu preço.

Conta uma história que um jovem foi visitar um professor bastante idoso, e, entre lágrimas, confessou: "Eu vim visitá-lo porque me sinto tão insignificante que nem tenho forças para me levantar de manhã. Todo mundo diz que eu não sirvo para nada. O que posso fazer para que me valorizem mais?". O professor, sem olhá-lo, respondeu: "Sinto muito, garoto, mas agora não posso atender você. Primeiro, devo resolver um problema que estou adiando há dias. Se me ajudar, talvez, depois, eu possa ajudar você".

O jovem, cabisbaixo, concordou com a cabeça. "Claro, professor, diga-me o que posso fazer por você". O idoso tirou um anel que tinha em seu dedo e o entregou ao jovem. "Estou em dívida com uma pessoa e não tenho dinheiro suficiente para pagar", explicou. "Agora, vá ao mercado vender o anel, mas não o faça por menos de uma moeda de ouro". Chegando lá, o garoto começou a oferecer o anel aos mercadores, mas, ao pedir uma moeda de ouro por ele, alguns davam risada e outros se afastavam sem sequer olhar. Derrotado, o garoto retornou à casa do ancião. E ao vê-lo, compartilhou sua frustração: "Sinto muito, mas é impossível conseguir o que você me pediu. Como muito, me ofereceram duas moedas de bronze".

O professor, sorridente, respondeu: "Não se preocupe. Você acaba de me dar uma ideia. Antes de atribuir um novo preço, primeiro precisamos saber o valor real do anel. Vá ao joalheiro e pergunte para ele quanto custa. E não importa quanto ele ofereça, não venda o anel. Volte para casa com ele". Após alguns minutos examinando o anel, o joalheiro disse que era "uma peça única" e que o compraria por "50 moedas de ouro". O jovem correu emocionado à casa do ancião e compartilhou com ele o que o joalheiro tinha dito.

"Estupendo, agora se sente um momento e escute com atenção", pediu o professor. Ele olhou o jovem nos olhos e disse: "Você é como esse anel, uma joia preciosa que só pode ser valorizada por um especialista. Pensava que qualquer um podia descobrir o seu verdadeiro valor?". E, enquanto o idoso voltava a colocar o anel em seu dedo, concluiu: "Todos somos como essa joia: valiosos e únicos. E andamos pelos mercados da vida pretendendo que pessoas inexperientes nos digam qual é nosso autêntico valor".

Dentro do "clube de boas pessoas" há aquelas que se doam baseadas na abundância e as que, pelo contrário, o fazem com base na escassez. Ou seja, as que se doam pelo prazer de ajudar e as que, de maneira oposta, o fazem com a esperança de receber. Vamos nos centrar nesses últimos, indagando sobre o que impulsiona, realmente, suas ações.

Muitos deles se forçam a fazer o bem, seguindo o que dita uma voz que os lembra de que pensar apenas em si mesmos e em suas próprias necessidades, é "um ato egoísta". E não é em vão que estão convencidos de que, para serem felizes, precisam do carinho e da admiração alheias, e, para que isso ocorra, devem ser boas pessoas. Movidos por esse tipo de crenças, costumam oferecer, compulsivamente, sua ajuda, trazendo para suas vidas pessoas necessitadas e incapazes de se autogerir.

Ao se colocarem como salvadores, consideram que as demais pessoas não poderiam sobreviver nem prosperar sem sua ajuda. Então, tendem a interferir nos assuntos de seus conhecidos, oferecendo conselhos até mesmo quando ninguém os pede. Sem ter consciência disso, pecam pela soberba ao se colocarem acima daqueles que ajudam, achando que sabem o que necessitam melhor do que eles mesmos.

Paradoxalmente, o orgulho os impede de reconhecer suas próprias necessidades e de pedir ajuda quando precisam. Por trás de uma personalidade bondosa, serviçal e inclinada a agradar sempre, se esconde uma dolorosa ferida: a falta de amor próprio. Um sentimento que buscam obter, desesperadamente, daqueles que ajudam, tornando-se indivíduos muito dependentes emocionalmente.

Esta é a razão pela qual, com o tempo, aflora sua escuridão em forma de repreensão. Eles se sentem tristes e magoados por não receber afeto e agradecimento em troca dos serviços prestados. Em alguns casos extremos, terminam explodindo agressivamente, jogando na cara das pessoas tudo que fizeram por elas. Também utilizam a chantagem emocional e a manipulação para se colocarem como vítimas e fazer com que os que receberam ajuda se sintam culpados, esperando, assim, obter o amor que acham que merecem e que necessitam para se sentirem bem consigo mesmos.

O ponto de inflexão desses ajudadores compulsivos começa no dia em que decidem adentrar um terreno tão desconhecido quanto aterrorizador: a solidão e a introspecção, colocando sua empatia a serviço de suas próprias necessidades.

Apenas assim podem superar sua dependência pelo amor do próximo, e conseguir ser muito mais autossuficientes emocionalmente. Dessa maneira, conseguem impor limites em relação a oferecer ajuda – sabendo dizer "não" –sem se sentirem culpados ou egoístas por priorizar a si mesmos quando mais o necessitam. Antes de voltar a ajudar alguém, pode ser interessante que se perguntem o que os incentiva a fazer isso, compreendendo o padrão inconsciente que se oculta por trás de suas boas intenções. Assim, deixarão de acumular sentimentos negativos por aqueles que não devolvem os favores prestados.

Também podem ter em mente que cada pessoa é capaz de assumir seu próprio destino, aprendendo a resolver seus problemas sozinha. Por isso, é fundamental que compreendam que ninguém faz outra pessoa feliz, já que a felicidade se encontra na interior de cada ser humano.

A realidade é que o bem-estar interno é o verdadeiro motor do amor, esse que faz com que as pessoas deem o melhor de si mesmas sem esperar nada em troca. Em vez de comportar-se como um bom samaritano, a grande aprendizagem consiste em ser uma pessoa feliz, o que torna possível compreender que ajudar pode ser a verdadeira recompensa.

Fonte: El País Brasil


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