Publicado por Redação em Gestão de Saúde - 16/12/2020

Seu trabalho é tedioso demais? Saiba como lidar com a Síndrome de Boreout



Muita gente tem relatado, durante a pandemia, a sensação de que as horas passam voando e o dia termina num piscar de olhos. Mas, e quando a situação é a inversa? Aquele cotidiano em que a pessoa considera o trabalho tão tedioso e sem graça que conta as horas para o expediente terminar?

“Para mim, o home office está parecido com uma prisão domiciliar”, diz E. G., que prefere não se identificar (as iniciais são fictícias). Funcionário do departamento administrativo de uma indústria, ele tem como incumbência, dia após dia, buscar informações em diversos setores internos para consolidá-las em planilhas.

“O trabalho já não me empolgava quando eu ia ao escritório, mas pelo menos eu me distraía de vez em quando conversando com os colegas. Em casa, as mesmas tarefas se tornaram quase insuportáveis”, conta ele, desanimado com perspectiva de que o regime de trabalho a distância será mantido pelo menos até março.

E.G. diz que está sofrendo muito com a diluição das fronteiras entre trabalho e vida pessoal. Antes da pandemia, a existência de limites físicos entre as duas dimensões representava também a separação clara entre obrigação e prazer.

Chegar em casa ao final do dia era, assim, a recompensa que ele tinha por suportar horas de trabalho enfadonho. “Agora eu não estou sentindo o mesmo prazer de estar em casa à noite. É como se a chatice do trabalho tivesse contaminado o meu refúgio.”

Burnout ao contrário

A sensação que E. G. está enfrentando em relação ao trabalho tem nome: Síndrome de Boreout. Sim, isso mesmo que você pensou: trata-se de um trocadilho com Burnout, a exaustão decorrente da dedicação exagerada ao trabalho, só que com a lógica inversa. O termo vem da expressão em inglês “bored”, usada para definir algo chato ou tedioso.

A síndrome foi descrita e batizada em 2008 pelos autores Philippe Rothlin e Peter Werder no livro Boreout! Overcoming Workplace Demotivation (“superando a desmotivação no trabalho”).

No momento em que o livro foi publicado, Rothlin e Werder estimavam que 15% dos profissionais estavam passando pelo problema. “Os efeitos perigosos do boreout não devem ser subestimados: insatisfação, cansaço e perda de entusiasmo pela vida – sem falar nos problemas econômicos causados por funcionários entediados”, descreveram os autores.

É preciso agir

Estar tão profundamente entediado com o trabalho é um péssimo sinal, evidentemente. Trata-se de uma demonstração clara de que algo precisa ser feito: mudar de setor dentro da empresa, mudar de emprego, talvez até mudar de carreira.

E.G. diz que já tentou uma transferência dentro da empresa e não conseguiu. E que não pensa, ao menos por enquanto, em pedir demissão. “Com tanta gente desempregada, o momento não é para isso. Preciso do salário e tenho que conviver com essa situação.”

A tendência natural para quem não está entusiasmado com o trabalho, no entanto, é de que o desempenho caia e a demissão se torne uma possibilidade cada vez mais próxima.

 Apatia leva à depressão

A coach Karinna Forlenza, autora do livro “Propósito – 20 dicas para você achar o seu”, diz que é preciso fazer uma reflexão profunda para entender o nível de descontentamento com o trabalho: se é algo definitivo ou se pode ser temporário, ainda possível de reverter.

Essa reflexão implica, também, avaliar a relação do trabalho com outros aspectos da vida. “Apostar que a atividade profissional irá suprir todos os anseios da vida é uma expectativa que frequentemente causa frustração, porque o trabalho, sozinho, não consegue dar conta disso”, ela observa.

O grande risco de não agir para entender mais a fundo o descontentamento com o trabalho, lembra Karinna, é simplesmente “ir levando” – até descobrir, lá adiante, que trocou o período mais precioso da carreira e da vida por simplesmente contar as horas à espera de cada final de semana.

As consequências emocionais da falta de atitude a respeito tendem a ser complexas – a apatia pode se transformar em ansiedade e depressão.

Como se livrar do Boreout?

O primeiro passo é, portanto, uma autoanálise profunda para entender o que está acontecendo e o que pode ser feito para mudar a sensação de tédio e desânimo diante do trabalho. Profissionais como coachs e mentores podem ajudar nesse processo.

Algumas perguntas contribuem para a reflexão. De onde vem a sensação de desânimo? O cotidiano é pouco desafiador? As tarefas são muito repetitivas e previsíveis? Você não enxerga propósito no trabalho que faz? Gostaria de fazer algo que considera mais relevante? Faltam perspectivas de aprendizado e de crescimento dentro da empresa? A relação com colegas e superiores é decepcionante?

A grande questão é tentar perceber se seria possível mudar a relação com o trabalho sem romper o vínculo com seu empregador. Será que você já pensou em todas as alternativas possíveis nesse sentido? Conversou abertamente com o chefe a respeito? Demonstrou interesse por novos desafios?

Chega de cumprir tabela

A reflexão deve levar à definição de uma estratégia: agir efetivamente para mudar a situação dentro do contexto atual ou, caso não haja caminho possível nesse sentido, montar um plano que remeta a alguma alternativa: buscar um novo emprego, iniciar uma nova carreira ou abrir um negócio. Essas ações, por si só, já representarão um respiro considerável contra a sensação de tédio e insatisfação.

Muita gente acaba caindo na armadilha das “algemas de ouro” – permanecer anos a fio num emprego insatisfatório, apenas porque tem um salário e um pacote de benefícios garantidos.

Embora a decisão de pedir demissão nem sempre possa ser tomada num rompante, é preciso dar passos em direção a isso. O que não se pode fazer é simplesmente fingir que não há nada de errado e continuar apenas cumprindo tabela.



Fonte: Maurício Oliveira - Fundação Padre Anchieta


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