Publicado por Redação em Gestão de Saúde - 10/09/2021

Sustentabilidade emocional: a saúde mental na estratégia corporativa



Em uma sexta-feira de 2017, Sofia Esteves, fundadora e presidente do conselho do Grupo Cia de Talentos, recebeu uma mensagem que a deixou intrigada. O texto de uma de suas sócias era simples: perguntava se ela poderia entregar um relatório na segunda-feira seguinte. O problema é que Sofia simplesmente não se lembrava de qual documento a colega falava. Ao perguntar, descobriu que era algo referente a uma reunião — da qual Sofia também não tinha a menor recordação. “Sempre tive uma memória cavalar. Eu sei o nome, telefone e endereço do primeiro cliente de 33 anos atrás”, diz a executiva. Sua sócia disse que o lapso poderia ser cansaço e recomendou descanso. Foi o que Sofia fez.

No fim de semana, ela só dormiu. A terça-feira seguinte mudaria tudo. Sofia caminhava pelo corredor da Cia de Talentos quando cruzou com outra sócia, Maira Habimorad, que comentou que a apresentação de Sofia para um cliente havia sido um sucesso. Só que ela não se lembrava de nada — de novo. Chegou até a corrigir a amiga, pensando que ela falava de outra pessoa. A sócia insistiu e mostrou uma foto do executivo. Mas Sofia definitivamente não se lembrava e desabou a chorar. “Ali eu percebi que tinha acontecido algo.”

Imediatamente, ligou para seu médico e foi até o hospital. “Imagine o pânico, porque a primeira coisa que pensei é que poderia ser um tumor.” Os exames não revelaram nada de errado fisicamente, mas o médico de Sofia foi taxativo: “Ainda não apareceu um buraco na sua cabeça, mas se continuar nesse ritmo vai aparecer”, disse ele. Era um alerta para que a executiva diminuísse o ritmo, o que ela nem pensava em fazer. O médico argumentou afirmando que aquilo era uma decisão pessoal, mas que se Sofia não abrisse mão de nada não sobraria nada mesmo — nem para ela nem para os outros.

Depois de vários exames, o diagnóstico de burnout foi confirmado e Sofia ficou 50 dias afastada. Nesse período, não podia ler, usar o computador nem assistir à televisão. A desconexão total era importante para recuperar os danos que o excesso de atividades havia causado a seu cérebro. Segundo Sofia, seus neurotransmissores tinham sofrido muito e precisavam se regenerar — o que só seria possível com descanso profundo. “Eu me sentia tão realizada no trabalho que não me dei conta de que tinha esticado demais o elástico”, diz a executiva. Além do repouso, Sofia fez sessões de mindfulness, terapia e fisioterapia cerebral. “Descobri que tinha uma fantasia inconsciente de que se deixasse de ajudar alguém eu não seria merecedora de ter sido ajudada”, diz Sofia. Hoje ela se policia para não voltar ao ritmo alucinante e para cuidar mais de si mesma. “Tenho um acordo com meu marido e com meus filhos: se eles perceberem que eu estou exagerando, têm que me avisar.”

Assim como Sofia, o burnout — ou síndrome do esgotamento profissional — afeta milhares de profissionais. Dados da International Stress Management Association no Brasil (Isma-BR) estimam que 33 milhões de brasileiros já tenham sofrido de burnout. Em 2019, éramos o país mais ansioso do mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), que calculava que 18,6 milhões de brasileiros possuíam a doença, o que correspondia a cerca de 9% da população total daquele ano. Além disso, ainda segundo a OMS, somos a segunda nação com mais casos de depressão — ficamos atrás apenas dos Estados Unidos. E a pandemia de covid-19 aumentou os problemas psíquicos: uma pesquisa feita pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) revelou que 80% dos brasileiros se sentiram mais ansiosos durante a crise.

A nova sustentabilidade

Não é à toa que desde o ano passado as empresas intensificaram as ações voltadas para o bem-estar mental dos funcionários. Porém, mais do que criar programas pontuais ou simplesmente oferecer sessões de terapia, é necessário preocupar-se de maneira abrangente com o tema. E a ideia de sustentabilidade emocional pode ajudar a estruturar práticas eficientes e perenes. O conceito é simples e tem a ver com a sustentabilidade ambiental.

Se no meio ambiente a regra é que devemos viver em harmonia com os recursos ecológicos para que eles não acabem, na saúde mental nós precisamos encontrar um ponto de equilíbrio entre aquilo que o ambiente exige de nós e o que realmente podemos oferecer sem esgotar nossas capacidades. “Sustentabilidade emocional é sobre como podemos buscar recursos psíquicos para nos mantermos na vida não só nos momentos felizes mas nos tristes também”, diz Sandra Tambara, psicóloga e coach executiva.



Fonte: Você RH


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