Publicado por Redação em Gestão de Saúde - 08/10/2019

Tetraplégico caminha com ajuda de equipamento movido pelo cérebro



Há quatro anos, o francês Thibault, de 30 anos, despencou de uma varanda a 15 metros do chão. O acidente destruiu sua medula espinhal e o deixou tetraplégico – sem movimentos do ombro para baixo. Ele, que achou nunca mais ser capaz de se mover outra vez, conseguiu mudar essa realidade graças a um traje robótico operado por comandos cerebrais.

Segundo os pesquisadores responsáveis pelo projeto, Thibault foi capaz de andar 145 metros, incluindo degraus. “Me sentia como o primeiro homem na Lua. Eu não andei por dois anos. Esqueci-me de como era ficar de pé, de como eu era mais alto que muitas pessoas naquela sala”, disse à BBC. 

Para chegar a este momento, o francês passou vários meses treinado o uso do cérebro para adquirir as habilidades necessárias para operar o equipamento. Isso o ensinou a reaprender movimentos que ele fazia naturalmente antes do acidente. Tudo começou com o controle de um avatar de videogame, permitindo que executasse movimentos básicos, como andar e tocar em objetos. Depois de dominar a técnica, ele foi colocado para operar o exoesqueleto.

Embora seja um avanço capaz de melhorar a qualidade de vida de milhares de pessoas, a equipe salienta que o equipamento vai demorar para ser disponibilizado ao público. Além disso, os cientistas destacaram que o objetivo do projeto não é transformar tetraplégicos em ciborgues, mas proporcionar maior autonomia aos pacientes. “Não se trata de transformar o homem em máquina, mas de responder a um problema médico”, comentou Alim Louis Benabid, principal autor do estudo, a Agência France-Press (AFP). 

Os resultados do estudo foram publicado no periódico The Lancet Neurology. Lesões na coluna cervical deixa cerca de 20% dos pacientes tetraplégicos e por isso e o problema mais grave entre danos na coluna, segundo o The Guardian.


O equipamento

O projeto foi desenvolvido por uma equipe de especialista da Universidade de Grenoble,em parceira com a empresa biomédica Cinatch e o centro de pesquisa CEA – todos na França. Para que o paciente fosse capaz de controlar o equipamento por intermédio do cérebro, os pesquisadores implantaram dois dispositivos de gravação em ambos os lados da cabeça de Thibault, entre o cérebro e a pele, para alcançar o córtex sensório-motor – a área do cérebro responsável pela função motora e sensorial. 

Cada gravador contém 64 eletrodos que coletam os sinais cerebrais e os transmitem a a um programa de computador capaz de traduzir os sinais do cérebro em movimentos que o paciente pensou. O sistema, então, envia os comandos físicos para serem executados pelo traje robótico. “O cérebro ainda consegue gerar comandos que normalmente moveriam os braços e pernas, só não há nada para realizá-los”, explicou Benabid.

Estudos anteriores utilizaram implantes para estimular os músculos dos pacientes, mas esta é a primeira a usar sinais cerebrais para controlar o exoesqueleto robótico. As descobertas pode permitir que indivíduos tetraplégicos consigam comandar diversos equipamentos por meio de ondas cerebrais. Thibault, por exemplo, já foi capaz de controlar uma cadeira de rodas.

“Isso pode nos colocar mais perto de permitir que os pacientes possam controlar cadeiras de rodas e mais para frente exoesqueletos que forneçam maior mobilidade. “Não posso ir para casa amanhã no meu exoesqueleto, mas cheguei a um ponto em que posso andar. Ando quando quero e paro quando quero”, comentou Thibault.


Limitações

Para garantir equilíbrio ao paciente e evitar que ele caia, o equipamento – com 65 quilos – é segurado por hastes presas ao teto. Ou seja, ele ainda não está pronto para ser utilizado fora do laboratório. Além disso, o volume de dados que pode captado no cérebro, enviado ao computador e transformado em movimentos pelo exoesqueleto ainda é limitado. Outro problema é que para utilizar os 64 eletrodos implantados no cérebro – atualmente só utilizam 32 – é necessário computadores com maior capacidade de dados. 

Os avanços, no entanto, inspiram esperança. Os próximos passos da pesquisa é recrutar mais três participantes e tentar permitir que andem e se equilibrem sem o auxílio da suspensão no teto.


Fonte: Veja


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