Diagnóstico precoce pode garantir cura e qualidade de vida do paciente


Entre os tipos de câncer que mais acometem a região da cabeça e pescoço, o de laringe está em segundo lugar. Sua incidência é três vezes maior em homens do que em mulheres, atingindo, principalmente, pessoas com idade superior a 50 anos. Tabagismo e ingestão de álcool são os principais fatores de risco para a doença e, portanto, devem ser evitados. Para saber mais sobre esse tipo de câncer que ganhou as manchetes dos principais veículos de comunicação do Brasil e do exterior, depois que o ex-presidente Lula foi diagnosticado com a doença, entrevistamos o Dr. Mauro Ikeda, médico cirurgião e otorrinolaringologista do Núcleo de Cabeça e Pescoço do Hospital A.C.Camargo.

Atuação – Entre os tipos de câncer que podem acometer a região da cabeça e pescoço, como está posicionado o câncer de laringe em termos de incidência? Dr. Mauro Ikeda – O câncer de laringe é a segunda neoplasia mais comum em termos de incidência na região da cabeça e pescoço, superado apenas pelos tumores malignos que acometem a boca. A laringe é um órgão que faz parte do sistema respiratório. Entre suas principais funções estão: levar o ar para os pulmões; proteger as vias aéreas superiores durante o processo de alimentação, impedindo que a comida entre no pulmão; e produzir a fala, uma vez que é na laringe que estão as cordas vocais. Portanto, trata-se de um tipo de câncer que pode ter grande impacto na qualidade de vida do paciente. O diagnóstico precoce da doença, além de aumentar as chances de cura, diminui o grau de sequelas do tratamento.

Atuação – Quais são os principais fatores de risco da doença?
Dr. Mauro Ikeda – Tabagismo e álcool são os principais fatores de risco para o câncer de laringe. O fumante tem dez vezes mais chances de ter a doença em relação ao não fumante. O tabagismo associado à ingestão de bebidas alcoólicas potencializa ainda mais esse risco. Pessoas que fumam e bebem tem 40 vezes mais chances de ter câncer de laringe, comparadas as que não adotam esses hábitos. Estatísticas revelam que a doença acomete três vezes mais os homens do que as mulheres e maior número de diagnósticos acontece na faixa etária superior a 50 anos. Os mesmo estudos apontam que a maior incidência entre o público masculino está ligada ao tabagismo. Trabalhadores expostos ao asbesto, mais conhecido como amianto, também estão sob grande risco de ter câncer de laringe, entre outras doenças. Infelizmente, esse tipo de mineração foi proibida na maioria dos países do mundo, mas permanece no Brasil. Além disso, há estudos, ainda em fase experimental, sobre a possível ligação entre o vírus HPV, o mesmo que pode provocar câncer de colo de útero, e o câncer de orofaringe, região na cavidade bucal que fica entre a raiz da língua, o palato e a epiglote, uma espécie de válvula da laringe que se fecha quando engolimos os alimentos, protegendo os pulmões. Da mesma forma que as demais doenças oncológicas, o fator hereditário também aumenta o risco para o câncer de laringe.

Atuação – Há sintomas ou sinais de alerta para a doença?
Dr. Mauro Ikeda – Sim. Rouquidão por um período superior a duas semanas sem causa direta, deve ser investigada. Esse é um sintoma que pode aparecer já na fase inicial de um câncer de laringe, principalmente, se o tumor estiver localizado na glote, região onde estão as cordas vocais. No caso de tumores maiores, o paciente pode apresentar dificuldade de engolir ou engasgar com facilidade. Já a presença de nódulo no pescoço pode indicar um câncer de laringe já em fase avançada com metástase.

Atuação – Como o médico faz o diagnóstico do câncer de laringe?
Dr. Mauro Ikeda – Em geral, é preciso fazer uma nasofibroscopia, realizada com o endoscópio que é passado através do nariz e permite ao médico avaliar desde a cavidade nasal até a laringe. Também são usados exames de imagem – tomografia computadorizada, ressonância magnética e o PET-CT – e a biópsia do tumor feita pelo cirurgião de cabeça e pescoço e diagnosticada pelo Laboratório de Anatomia Patológica. Com base nas informações dos exames solicitados, o médico obtém o estadiamento, ou seja, dados sobre a extensão da doença e o tipo de tumor. O câncer de laringe pode estar em fase inicial (estadiamento 1 e 2) ou avançado (3 e 4). Assim, para cada paciente é realizado um planejamento individualizado de tratamento.

Atuação – Mesmo considerando que o tratamento é individualizado, pode-se traçar quais são os procedimentos gerais utilizados em cada estadiamento?
Dr. Mauro Ikeda – Tumores de câncer de laringe diagnosticados nas fases 1 e 2 podem ser tratados de forma curativa com radioterapia ou cirurgia conservadora, preservando as funções da laringe do paciente. A cirurgia pode ser realizada de forma aberta ou por endoscopia e utilização de laser. Já nos estádios 3 e 4, o médico, em conjunto com o paciente, decide se vai realizar cirurgia para extirpar o tumor, com riscos de sequelas, ou adotar protocolos de conservação de órgãos com utilização de quimioterapia e radioterapia. Ressalto que no estádio 4, a doença já apresenta um quadro de invasão de cartilagens e a opção mais indicada é cirurgia com laringectomia total. No estádio 3, por sua vez, ainda há boas chances de se conservar a laringe.

Atuação – Em caso de sequelas, quais são os recursos que o Hospital A.C.Camargo oferece para reabilitação do paciente?
Dr. Mauro Ikeda – A preocupação com a qualidade de vida do paciente está presente desde o início do tratamento. Ao ser diagnosticado com câncer de laringe, o paciente recebe os cuidados de uma equipe multidisciplinar formada pelo médico cirurgião especialista em cabeça e pescoço as equipes das áreas de Imagem e Anatomia Patológica, com participação direta, também, da Radioterapia e Oncologia Clínica, além de Enfermagem especializada, fonoaudiólogos, nutricionistas e estomatologistas. Dessa forma, todas as decisões são tomadas com o objetivo de curar a doença e, ao mesmo tempo, minimizar as sequelas. Em relação a reabilitação de pacientes laringectomizados ou com problemas de fonação ou deglutição em função do tratamento, destaca-se o trabalho realizado pelo Serviço de Fonoaudiologia do Hospital, considerado referência na área.

Fonte: www.accamargo.org.br