Publicado por Redação em Gestão de Saúde - 28/10/2021

Empresas distribuem sabáticos para combater burn out



Tudo começou com um pouco de tempo de folga adicional. Para combater o esgotamento dos funcionários em meio às pressões da pandemia, as empresas vêm oferecendo dias de folga improvisados ou férias “instantâneas”. Algumas, como LinkedIn, Nike e o site de namoro Bumble, deram a cada funcionário uma semana extra neste verão. 

Contudo, os sinais crescentes de trabalhadores exaustos e desmotivados estão levando alguns empregadores a ir ainda mais longe, introduzindo períodos sabáticos com meses de duração. O objetivo: reter os melhores talentos e ajudar a evitar o número recorde de pedidos de demissão que   observado em alguns setores. 

Esta semana, o banco de varejo Synchrony Financial apresentará um novo benefício a entrar em vigor no ano que vem: a opção de solicitar um período sabático de até um ano de afastamento do trabalho com remuneração reduzida. 

“Não vamos nos limitar apenas às situações nas quais as pessoas têm que cuidar dos filhos e nem ao sabático à moda antiga, de velejar ao redor do mundo”, explica Aaron Brown, vice-presidente sênior de recompensas totais da empresa. “As pessoas querem esse tempo – precisam desse tempo – por várias razões. Não queremos perder a conexão com elas.”

O anúncio do Synchrony vem após o de empresas como o Citigroup, que lançou um período sabático de 12 semanas no início do ano para funcionários que estão há mais de cinco anos no cargo, com direito a 25% do salário-base. No ano passado, a PwC, gigante do setor de consultoria, começou a oferecer licenças de um a seis meses com direito a 20% do salário.

Isso está acontecendo uma semana depois de o Departamento de Estatísticas do Trabalho ter afirmado que 4,3 milhões de funcionários – cifra recorde – saíram do emprego em agosto, ampliando o que ficou conhecido como a Grande Demissão (Great Resignation, em inglês). Cada vez mais trabalhadores estão pedindo as contas, seja porque estão encontrando empregos melhores, seja porque se cansaram dos clientes abusivos, seja porque não estão prontos para retornar ao escritório no momento em que começam a ser chamados de volta.

Porém, embora o interesse nesses programas possa estar aumentando – Brown, do Synchrony, diz que tem ouvido colegas do setor discutir a opção –, eles também levantam questões sobre sua real eficparia para funcionários de alto desempenho. E se podem gerar injustiças e causar conflitos entre os colaboradores.

“A questão é a quem oferecer”, comenta Brian Kropp, vice-presidente de pesquisa da Gartner, observando que algumas pessoas não podem se dar ao luxo de passar meses com o salário reduzido. “Há uma preocupação de que muitas pessoas vão aceitar. E, se você for oferecer a apenas algumas pessoas, como decidir quem vai receber? Isso cria todo tipo de problema de equidade e justiça.”

O recente programa de licenças da PwC, que requer inscrição, está aberto a funcionários mais novos, e o tempo de licença pode ser mais longo do que o permitido em seus outros programas de período sabático. A empresa não quis revelar quantas pessoas tiraram proveito do novo programa. “Somos como todo mundo: sem dúvida, estamos vendo um aumento das solicitações e concessões de períodos sabáticos ou de licenças”, diz Joe Atkinson, diretor de produtos e tecnologia da PwC.  “Prefiro que eles façam isso do que sair da empresa”. 

No Synchrony, Brown e sua equipe estão acertando os detalhes de como o sabático vai funcionar, mas os funcionários em tempo integral que estão no cargo há um tempo mínimo – possivelmente um ou dois anos – terão o direito de se inscrever e receberão um salário reduzido durante o tempo em que estiverem fora. O Synchrony disse que a maior parte de sua força de trabalho nos EUA terá direito. A empresa não divulgou o custo do programa, mas uma porta-voz  considera esses programas um “investimento” que compensa em termos de retenção, engajamento e cultura. Entretanto, é improvável que o benefício seja chamado de “sabático”, em parte porque isso lembra coisas como férias gerais, que os funcionários podem tirar por motivos diversos, como educação ou necessidade prolongada de prover cuidados, diz Brown.

O benefício é outro exemplo de como o Synchrony acrescentou privilégios em reação ao feedback dos funcionários, atualizando os benefícios durante a pandemia. A empresa expandiu de 10 para 60 dias seu benefício de reforço de cuidados infantis, adicionou uma sexta-feira flexível que incentiva a diminuição das reuniões e o aumento do tempo pessoal e ampliou a diversidade de seus coaches de bem-estar. 

Rachel Montañez, uma coach de carreira da região de Orlando, na Flórida, diz que o esgotamento é particularmente alto entre mulheres e pessoas negras. E que mais clientes estão pedindo períodos sabáticas isolados – e conseguindo-os de fato. 

Ainda assim, ela notou uma pegadinha: alguns empregadores parecem mais propensos a apoiar licenças prolongadas se o funcionário estiver tirando, digamos, uma licença para escrever um livro que dará destaque à empresa. “Parece uma espécie de ‘o que podemos ganhar com isso’”, diz ela. “Não sei em que medida será eficaz se eles estiverem apenas mergulhando em outro projeto sem fazer uma pausa.”

Um período sabático para combater o esgotamento pode ser particularmente atraente para mães que trabalham e sentem que a licença-maternidade remunerada não tem duração suficiente. Essas mulheres vêm saindo da força de trabalho em números desproporcionais porque o ensino virtual e as opções limitadas de creches impuseram demandas pesadas às suas carreiras. 

“Todas essas empresas dando folga às pessoas – não acho que isso seja prejudicial. Acho que muitas pessoas precisam de um pouco de repouso e recuperação neste exato momento. Mas não é uma solução sustentável”, comenta Liz Wiseman, escritora e consultora de gestão. Wiseman diz ter descoberto, em suas pesquisas, que o sentimento de estar sendo subutilizado costuma ser o verdadeiro culpado do esgotamento. “O esgotamento não resulta de trabalho demais. Resulta de impacto de menos. Você está trabalhando duro, mas não está chegando a lugar nenhum.”

Por sua vez, os empregadores também precisarão evitar sobrecarregar os funcionários que ficam na empresa durante o período sabático de um colega, levando em conta o mercado de trabalho carente, em que é difícil suprir essa ausência.

Brown, do Synchrony, afirma que haverá um processo de aprovação e revisão para coordenar os tempos de folga e garantir que o banco consiga atender às suas necessidades empresariais. “Não achamos que teremos uma corrida no banco”, diz. E, se eles obtiverem mais feedback, “seja de gerentes, seja de funcionários, então fazemos ajustes conforme necessário. Não seria surpreendente se fizéssemos ajustes”.  

No caso do Synchrony, diz Brown, a rotatividade caiu durante a pandemia e, embora tenha começado a aumentar no início do verão, ainda está um pouco abaixo da média. Mesmo assim, ele espera que a introdução do novo programa ajude a evitar futuros pedidos de demissão. “Se não fizermos isso, ou eles vão embora para tirar esse período, ou vão trabalhar em outro lugar que talvez o ofereça.”



Fonte: Forbes


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