Publicado por Redação em Saúde Empresarial - 15/10/2025

Epidemia silenciosa: saúde mental ultrapassa câncer e se torna a maior preocupação dos brasileiros

saúde mental se tornou o principal problema de saúde para os brasileiros, superando até mesmo o câncer. De acordo com o levantamento Ipsos Health Service Report 2025, 52% dos entrevistados apontam a saúde mental como sua maior preocupação — um salto expressivo em relação a 2018, quando o índice era de 18%.

Na sequência, aparecem o câncer (37%) e o estresse (33%), seguidos pelo abuso de drogas (26%) e a obesidade (22%). Neste Dia Internacional da Saúde Mental (10), o Brasil ocupa a terceira posição global entre os países que mais pensam sobre o bem-estar emocional, atrás apenas de México e África do Sul: 74% dos brasileiros afirmam refletir “com muita frequência” sobre o tema.

“O adoecimento mental deixou de ser um tabu para se tornar uma epidemia silenciosa, mas visível, que afeta profundamente nossa sociedade”, afirma Ricardo Patitucci, psiquiatra pela PUC-PR e com especialização na UFRJ. “Trata-se de um reflexo de um acúmulo de pressões sociais, econômicas e, em grande parte, profissionais, que estão cobrando um preço alto na saúde mental da população.”

Epidemia silenciosa no trabalho

A preocupação dos brasileiros é confirmada por dados do Ministério da Previdência Social, que registrou 472.328 afastamentos por transtornos mentais em 2024, um aumento de 67% em relação ao ano anterior e o maior número da série histórica. “Até 2022, o número de afastamentos por transtornos mentais se mantinha relativamente estável”, afirma Tatiana Pimenta, CEO e cofundadora da Vittude, plataforma de terapia online. “Tudo indica que esse número deve dobrar em 2025, com crescimento de 140% apenas no primeiro semestre.”

“Esse aumento nos afastamentos pode ser explicado pelo esgotamento acumulado pós-pandemia, a intensificação das demandas de trabalho e a dificuldade em desconectar.”

Ricardo Patitucci

Segundo Patitucci, muitos profissionais estão vivendo um fenômeno apelidado de “quiet cracking”: “É quando a sobrecarga emocional atinge um ponto de ruptura, levando ao afastamento como último recurso, quando o corpo e a mente não suportam mais.”

Uma pesquisa da Gupy, plataforma de tecnologia para RH, indica que quase 7 em cada 10 profissionais brasileiros se sentem emocionalmente sobrecarregados. Os principais fatores apontados são metas inalcançáveis, cultura do ‘sempre disponível’, falta de reconhecimento e gestão disfuncional. Entre os sintomas mais frequentes estão estresse (46%), tristeza (25%) e raiva (18%).

Mulheres e geração Z no centro da preocupação

A pesquisa da Ipsos também aponta que as mulheres (60%) e a geração Z (60%) são os grupos mais preocupados com a saúde mental, bem acima dos homens (44%) e dos baby boomers (40%). “Mulheres acumulam múltiplos papéis — profissionais, mães, cuidadoras — e muitas vezes são as principais provedoras do lar. Isso tem impacto direto na sobrecarga feminina e na saúde mental”, explica Pimenta. “Já a geração Z, que cresceu em um mundo digital e com maior acesso à informação, tem uma percepção mais aguçada sobre a importância da saúde mental e menos estigma para falar sobre o tema”, observa Patitucci.

Impacto econômico e papel das empresas

A OMS (Organização Mundial da Saúde) afirma que transtornos mentais afetam mais de 15% da força de trabalho global, reduzindo a produtividade e aumentando a rotatividade.

Problemas de saúde mental não afetam apenas as vidas e carreiras dos profissionais, mas também podem gerar custos significativos para as empresas. Mais precisamente, uma perda de US$ 8,9 trilhões (R$ 48,7 trilhões) à economia global anualmente, segundo um relatório da consultoria Gallup.

Além disso, o presenteísmo (quando colaboradores estão presentes, mas improdutivos) chega a 30% nas empresas brasileiras, segundo dados do Censo de Saúde Mental da healthtech Vittude. Na prática, isso significa que uma empresa precisa de dez pessoas para executar o trabalho de sete. “Cuidar da mente é, e sempre foi, uma questão de produtividade e sustentabilidade do negócio”, afirma Pimenta. “Quando a saúde mental se deteriora, o negócio sente.”

Nesse cenário, investir em bem-estar emocional é também uma estratégia de negócios. “Empresas que investem proativamente na saúde mental dos colaboradores não apenas cumprem um papel social, mas colhem benefícios tangíveis, como redução de até 23% na rotatividade, aumento de produtividade e melhora na retenção de talentos”, afirma Patitucci. “Nas empresas que estruturaram programas maduros, com diagnóstico, educação e acesso à terapia, observamos redução de afastamentos, aumento do engajamento e melhora real nos resultados”, diz Pimenta.

O desafio corporativo

De acordo com o relatório da Gupy, há uma tendência cíclica de piora da saúde mental no segundo semestre, especialmente entre agosto e outubro, período de retomada de metas e acúmulo de estresse. “Esse ciclo pode ser quebrado com planejamento estratégico e uma cultura de cuidado contínuo”, defende Patitucci.

Entre as medidas, o psiquiatra destaca a revisão realista de metas, incentivo a pausas e férias ao longo do ano, e a capacitação de líderes para reconhecer sinais de esgotamento. “É fundamental que a liderança promova um ambiente de escuta e reconhecimento, evitando que o acúmulo de estresse se torne insustentável e leve ao ‘quiet cracking’.”

Apesar do avanço das discussões sobre saúde mental, Pimenta acredita que o país ainda precisa avançar no tema. “O grande desafio hoje é tirar a saúde mental do campo do tratamento e levá-la para o campo da prevenção”, afirma. “A maioria das empresas ainda atua de forma reativa, só age quando o colaborador adoece ou apresenta um atestado.”

“Estamos em um ponto de inflexão. O cenário ainda pode se agravar antes de uma melhora substancial, especialmente se as empresas não agirem de forma proativa e sistêmica.”

Ricardo Patitucci

Por outro lado, há sinais de mudança positiva. “Há um movimento crescente de conscientização e de busca por soluções, com a saúde mental sendo reconhecida como um pilar estratégico para o sucesso organizacional”, diz Patitucci. “As empresas que investirem genuinamente em bem-estar serão as que construirão ambientes mais saudáveis e sustentáveis para o futuro.”

Fonte: Forbes Brasil


Posts relacionados

Saúde Empresarial, por Redação

Saúde cria software para agilizar tratamento de câncer pelo SUS

Novo Sistema de Informação do Câncer foi criado para acompanhar o cumprimento do prazo de 60 dias e reunirá dados do histórico dos pacientes. Estados e municípios que não cumprirem o prazo terão repasses suspensos

Saúde Empresarial, por Redação

Mortalidade de idosos cai 9% em 10 anos no Estado de SP

Levantamento da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo mostra que, em uma década, a mortalidade de paulistas com 60 anos ou mais caiu 9%. Foram 364 mortes para cada 10 mil idosos no Estado em 2010, último dado disponível, contra 400 por 10 mil em 2000.

Saúde Empresarial, por Redação

Novo presidente dos cardiologistas defende igual atendimento dos planos de saúde e do SUS

O novo presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), Jadelson Andrade, que assume o cargo na próxima sexta, dia 16, defende a necessidade de que o atendimento de excelência que recebem os brasileiros protegidos por planos de saúde venha a ser o mesmo oferecido aos usuários do SUS,

Deixe seu Comentário:

=