Publicado por Redação em Notícias Gerais - 02/08/2013

Indicadores mostram inflação imune a juros

Indicadores de variação de preços relativos aos meses de junho e julho, recentemente divulgados, apontam para uma mudançade rota na inflação no segundo semestre deste ano.
 
Em vez da tão debatida inflação de demanda, que vem justificando o ciclo de alta da taxa básica de juros pelo Banco Central, o que já está presente nas estatísticas dos preços no atacado é a inflação de custos, cujo antídoto nada tem a ver com a alta da Selic, como ressalta a professora da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo (FGV-SP), Laura Barbosa de Carvalho. "Tentar cortar a demanda é o que, definitivamente, não funciona", alerta.
 
Entre as principais altas nas variações de preços na porta de fábrica, medidas pelo Índice de Preços ao Produtor (IPP) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) -cuja taxa passou de 0,24% para 1,33% de maio para junho -, destaca-se a contribuição de itens que têm os preços diretamente influenciados pelo aumento de custos, sobretudo, pelo dólar.
 
O câmbio interfere principalmente os preços dos produtos químicos, que têm ainda o agravante de funcionar como contaminadores do restante da cadeia produtiva. A indústria química é a segunda em importância na formação do Produto Interno Bruto (PIB) industrial e fornecedora de matéria-prima para a maioria dos produtores, da agricultura ao aeroespacial.
 
Manoel Campos Souza Neto, analista socioeconômico do IBGE, aponta os químicos como segundo principal responsável pela forte aceleração do IPP de junho, atrás apenas dos alimentos. Mas eles não são os únicos contaminados pelo câmbio.
 
Também os preços de itens de informática e de papel e celulose estão no rol de segmentos que tiveram os custos elevados por utilizar e mmuitos componentes importados na fabricação e que repassaram a alta para os seus consumidores.
 
Já em julho, o Índice Geral de Preços ao Mercado (IGP-M), do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV), revela altas expressivas no atacado também motivadas pelo câmbio. Os preços dos químicos orgânicos aceleraram de -1,32% em junho para 1,94% no mês passado. Neste grupo estão, por exemplo, os fertilizantes, insumo agrícola.
 
Os químicos inorgânicos, como o plástico utilizado na embalagem de uma infinidade de produtos, teve o indicador acelerado de 0,66% para 1,02%. "O avanço das taxas é explicado, quase na totalidade, pelo câmbio", diz André Braz, economista do Ibre/FGV.
 
O IGP-M traz ainda a contaminação dos preços do querosene de aviação (de -2,98% para 3,52%), de computadores (de -0,56% para 0,46%) e da celulose (de 2,21% para 3,38%). "A influência do câmbio ganhou mais peso em julho, na inflação de alguns produtos no atacado,mas ainda não aparece como uma contribuição definitiva na totalidade do IGP-M", ressalta Braz.
 
Laura, da FGV-SP, salienta que, na verdade, a economia brasileira é marcada pelos custos há muitas décadas. Por causa da indexação de contratos, dos reajustes salariais, da utilização em larga escala de insumos importados e também do câmbio, esse é um fenômeno típico da inflação brasileira. 
 
Ela discorda da análise de muitos economistas de que a demanda desenfreada compromete o crescimento econômico. Em sua opinião, os que defendem o remédio da alta de juros e de políticas fiscais mais severas baseiam suas análises em projeções de crescimento potencial da economia pouco factíveis, revistas frequentemente, sem muitos fundamentos técnicos.
 
Apesar de ser uma característica da inflação, diz ela, neste início de semestre, a alta do dólar contribuiu para intensificar ainda mais o peso dos custos na inflação. Mas, em sua opinião, a alta dos juros não é a melhor solução nesse caso. Ela indica a desindexação de contratos, embora reconheça que seja uma medida de baixa popularidade, porque, em um primeiro momento poderá frustrar as expectativas de melhores ganhos por parte de trabalhadores ou de empresários.
 
Na indústria química, a alta do dólar já foi em parte repassada para os preços dos produtos, informa a Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim). Fernando Figueiredo, presidente da entidade, ressalta que não foi possível repassar toda a valorização, por causa do atual estágio de economia enfraquecida e retração da demanda. 
 
Ainda assim, o segmento foi favorecido com a baixa do real, por causa da retração da concorrência de produtos importados, o que impede que as empresas atuem com margens comprimidas.
 
O cenário, contudo, não é suficientemente positivo para permitir investimentos. O nível de utilização da capacidade da média das fábricas está em 83% neste mês. E, pelos cálculos da Abiquim, ampliações só acontecerão de fato, quando alcançar 90%.
 
A grande dúvida entre os economistas que percebem a mudança do perfil da inflação é sobre quando a alta de preços atingirá o consumidor final. Laura acredita que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), indicador de inflação oficial do governo, será contaminado pelo câmbio (em sua totalidade e não em alguns segmentos apenas) no fim deste ano ou início de 2014. André Perfeito, da corretora Gradual Investimentos, vê o processo de contaminação dos custos com cautela. Em sua opinião, os dados correntes de preço dão conta de uma situação mais controlada. Enquanto Luis Otavio Leal, do banco ABC Brasil, afirma que "a generalização de uma inflação contaminada pelo câmbio só ocorrerá se as indústrias encontrarem espaço para repassar os seus custos", o que não está sendo possível neste momento mais frágil da economia. "Não sei o quanto vai virar inflação de custo e o quanto será mais um choque na lucratividade da indústria", acrescenta.
 
Fonte: Brasil Econômico - IG

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