Publicado por Redação em Notícias Gerais - 03/08/2016

Problemas da dívida pública

O PIB depende da relação entre a tecnologia incorporada ao estoque de capital (K) por unidade da mão de obra

Déficits fiscais sistemáticos acumulados levantam dúvida sobre a sustentabilidade da sua relação com o PIB

Sempre temos insistido que a economia não é uma “ciência”, mas isso não a faz menos útil para a boa administração da sociedade que procura uma melhor acomodação dos interesses conflitantes dos seus membros.

Um dos seus instrumentos fundamentais é a construção da contabilidade nacional. Ela rege o cálculo do Produto Interno Bruto (PIB), que é o valor adicionado (salário + lucro) de todos os agentes que produzem os bens e serviços.

Estabelece, com definições adequadas, identidades entre as variáveis macroeconômicas sobre as quais temos curiosidade: PIB, poupança, investimento, consumo, gastos do governo, exportação, importação. Como são identidades, não podem ser violadas.

Quando a política econômica tenta ignorá-las, sempre termina num pasticcio como aquele em que estamos vivendo. Por exemplo, o valor adicionado a preços de mercado dos componentes do PIB no primeiro trimestre de 2016 foi de 1.474 bilhões de reais, distribuídos conforme mostra o quadro.

O cálculo do PIB, sendo a valor de mercado, inclui os impostos pagos ao governo (T), que foi de 214 bilhões, ou seja, 17% sobre o valor adicionado (1.260 bilhões) pelo trabalho (salário) e pela remuneração do capital (lucro).

Com esses números, podemos estimar a poupança nacional (S), que é, por definição, tudo aquilo que não foi consumido: S = Y – C = I + X – M. Isto é, o que foi deliberadamente investido ou restou como estoque (I), somado ao saldo em conta corrente (X-M), as exportações “líquidas”, que chamaremos de NR. No nosso caso, S(=17) = I(18) – NR(1).

O aumento do déficit público (o aumento das despesas do governo, incluído no consumo C, acima), reduz a poupança nacional, mesmo quando financiada pelo aumento da dívida pela venda de Bônus do Tesouro ao setor privado. Com esse exercício, podemos avançar para entender quais os possíveis efeitos sobre a macroeconomia das variações do déficit público.

O que a identidade S = I + NR exige como resposta a qualquer elevação do consumo privado? Digamos uma elevação do salário mínimo real sem correspondência com o crescimento da produtividade do trabalho ou uma expansão do consumo público (uma distribuição que eleva o déficit sem aumentar a produtividade da economia, mas reduz a poupança global)?

A resposta é simples e inexorável: ou uma redução dos investimentos (I) ou um crescimento do endividamento externo (NR), ou uma combinação dos dois. A identidade será mantida pelos efeitos do funcionamento dos três preços básicos da economia: a elevação do salário real (que reduziu a poupança) será compensado por um aumento da taxa de juros real (que reduzirá o investimento) e pela valorização do câmbio real (que aumentará o déficit externo), ou pelos dois.

Déficits fiscais sistemáticos acumulados levantam dúvida sobre a sustentabilidade da relação dívida bruta/PIB e magnificam essas consequências. No longo prazo, o PIB potencial depende da relação entre a tecnologia incorporada ao estoque de capital (K) por unidade da mão de obra que pode e deseja trabalhar com capacidade para operá-lo (L).

A quantidade e a qualidade do capital (K) dependem dos investimentos físicos e a quantidade e disponibilidade da mão de obra capaz dependem da demografia e dos investimentos em capital humano (saúde e educação). Investimento, investimento, investimento... É contra ele que conspira o déficit público exagerado! A dívida pública deve financiar o investimento. Nunca despesas correntes, salários ou transferência de renda.

O déficit público e a sua acumulação alteram a alocação dos recursos para satisfazer as identidades da contabilidade nacional. Modificam-se o valor do salário real, a taxa de retorno real do capital e a taxa de juro real. Ao final e ao cabo, podem acabar alterando a distribuição de renda de forma diferente da esperada por seus praticantes.

A “ciência lúgubre” às vezes prega peças aos “pragmáticos” que exageram nas virtudes do déficit público (que, certamente, existem), mas insistem em ignorar suas consequências quando feito descuidadamente. A quem ainda tiver dúvidas e sobrar curiosidade, tomo a liberdade de sugerir a leitura do clássico (neoclássico, sim senhor!), Ball, L. e Mankiw, G. – What Do Budget Deficits Do?, 1995.

Fonte: Carta Capital


Posts relacionados

Notícias Gerais, por Redação

INSS paga benefícios para cartões final 5 e 0

O Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) irá pagar nesta segunda-feira o benefício para os aposentados e pensionistas que recebem até um salário mínimo e que possuem cartão com final 0, desconsiderando o dígito,

Notícias Gerais, por Redação

Substituição das sacolas de plástico descartáveis começa dia 25 em SP

A partir do dia 25, quem for realizar compras nos supermercados do Estado de São Paulo já não vai receber de graça as tradicionais sacolinhas de plástico.

Notícias Gerais, por Redação

IBGE:EUA é principal destino de brasileiro no exterior

Os Estados Unidos são o principal destino de brasileiros que vão morar no exterior (23,8%), seguido por Portugal (13,4%), Espanha (9,4%), Japão (7,4%), Itália (7%) e Inglaterra (6,2%), de acordo com dados do Censo divulgado hoje pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Deixe seu Comentário:

=