Publicado por Redação em Notícias Gerais - 27/04/2011

Impostos são a maior barreira para o crescimento do vinho

Hoje, no Brasil, são consumidas 115 milhões de garrafas de vinho fino por ano, sendo que 80% deles custam até R$ 18 e a produção nacional responde somente por 27% dos vinhos comercializados. Contudo, existe um potencial de consumo muito grande neste mercado: são 30 milhões de pessoas que recebem mais de cinco salários mínimos por mês e teriam condição de consumir uma garrafa por semana, o que daria um total de 1,56 bilhão de garrafas por ano. Isso sem contar a crescente “nova classe média”. Para avaliar os obstáculos e apontar as oportunidades deste segmento que está em franca expansão, a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (Fecomercio) realizou, o debate “O Vinho no Brasil”.

“O maior problema do vinho são os impostos”, afirma o fundador da confraria dos Sommeliers, Didú Russo. “Qualquer garrafa já sai da vinícola já tendo pago 51% de imposto.” Russo destaca que, em comparação com os concorrentes argentinos, chilenos e uruguaios, o produtor brasileiro gasta 30% a mais com cada garrafa, cuba, mangueira, caixa, rolha etc. Além disso, alguns tributos como o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) e o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) incidem duas vezes sobre o vinho antes de chegar ao consumidor. “No fim das contas, somente 30% do que você paga em uma garrafa importada custo do vinho. E se a garrafa for nacional a coisa só piora, o custo do vinho é 16% do total”, denuncia.

Outro problema do setor foi apontado pelo âncora da rádio CBN, Adalberto Pioto, que foi quem mediou o debate. “Há uma falha de comunicação. Falta união do setor para tratar de questões que precisam ser debatidas”, avalia. Contudo, uma polêmica recente, a adoção de um selo a ser estampado em todas as garrafas de vinho, assegurando que todos os tributos incidentes sobre aquele produto foram pagos, impedindo que um produtor se beneficie por deixar de pagar certos impostos e, com isso, gerando condições equânimes de competição – segundo os defensores da iniciativa – está movimentando o setor que, ao menos como foi demonstrado durante o evento da Fecomercio, não concorda com a medida. “A discussão gerada pelo selo é boa”, pondera Pioto. “Não pelo selo em si, mas por indicar o principio de uma união.”

Na prática, entretanto, o debate em torno do selo está gerando tensão entre os produtores de vinho. “O selo não garante a competitividade, garante a continuidade de um regime desigual, no qual os pequenos não têm capacidade de concorrer com os grandes”, critica o proprietário da vinícola Valontano, Luís Henrique Zanini. “Basicamente, o selo irá beneficiar a Salton e a Miolo”, concorda o proprietários da importadora Ravin, Rogério D’Avila. “Não faz sentido que uma associação que briga pelo crescimento do mercado de vinho coloque uma barreira que vai aumentar gastos, burocracia e trabalho. O vinho já sofre uma tributação absurda, não precisa desse selo”, acrescenta.

Por outro lado, o diretor executivo do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin), Carlos Paviani, pondera que o selo fiscal é uma ferramenta importante para garantir que todos paguem os impostos. “Quando a sangria e os coquetéis feitos com vinho receberam o selo, produtores dessas bebidas deixaram o mercado e se voltaram para o vinho, que não recebia selo”, conta. “O selo prejudica, mas é um remédio amargo para uma situação que precisa ser revertida”, conclui.

Mas não é só para os produtores de vinho que o selo está gerando dificuldades. Apesar de já ser exigido para os produtores, o comércio pode continuar vendendo vinhos sem selo até 31 de dezembro de 2011, contudo, em 1° de janeiro do próximo ano, as garrafas produzidas até 2010 e que, portanto, não tem selo, não poderão mais ser comercializadas. “O que faremos com todas as garrafas que temos em estoque?”, indaga Alfredo Srour, da importadora Franco Sulissa. “Não podemos pedir o selo para as garrafas que já compramos. Ou tomamos em casa, ou damos o vinho para amigos ou queimamos tudo em praça pública”, ele mesmo responde, indignado.

Para o importado Ciro Lílla, da Mistral, o selo é “uma medida infantil, usada somente por um punhado de países”. Ele afirma que, infelizmente, a medida irá gerar oportunidade para o mercado informal. “Com o avanço da computação gráfica, serão feitos selos falsos, como acontece com o cigarro e com o whisky.” D’Avila, da Ravin, pondera que seria mais interessante que se gastasse o dinheiro do selo – R$ 0,12, fora a mão de obra – com propaganda. “Certamente o setor cresceria mais desse jeito".

Fonte: www.investimentosenoticias.com.br | 27.04.11


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