Publicado por Redação em Previdência Corporate - 04/02/2011

Cenário segue nebuloso e perspectiva é de um mês desafiador nas bolsas

SÃO PAULO - A tão esperada alta na bolsa após um 2010 desapontador esbarrou na crescente inflação interna e no já esperado aperto monetário em meados de janeiro, levando o Ibovespa a fechar o último mês em queda de 3,94%. Desde então, além da pressão nos preços no front doméstico, o noticiário internacional também tem corroborado para a predominância do clima de cautela entre os investidores ao redor do globo.
 
Em meio a este cenário, é hora de adotar posições mais conservadoras. Pelo menos esta é a percepção por trás das recomendações reveladas nas carteiras para fevereiro, as quais denotam as perspectivas de um viés negativo para a bolsa brasileira. O mesmo movimento também poderá ser observado nos mercados externos, principalmente por conta do tumultuado noticiário internacional, que inclui os protestos no Egito, os indicadores econômicos norte-americanos, assim como as atenções acerca de um possível novo ciclo de aperto monetário na China. No Brasil, a inflação seguirá sendo o principal driver negativo para a performance dos investimentos em bolsa.
 
Cabe ressaltar que o mês também terá como referência a temporada de divulgação de resultados por aqui, a qual teve início na última segunda-feira (31), pedindo ainda mais atenção por parte do investidor às referências que regem os mercados.
 
Assim, diante de um ambiente conturbado, as estratégias das carteiras recomendadas no segundo mês de 2011 dão ênfase a uma menor exposição a setores que eventualmente seriam prejudicados por novas medidas do governo para conter o avanço dos indicadores de inflação no País, especialmente o setor de consumo. Ganham com isso os papéis ligados a commodities, cujos pesos nas recomendações para fevereiro foram ampliados em meio ao contínuo avanço das cotações no mercado internacional.
 
No Brasil, inflação seguirá em foco
No cenário doméstico, o principal foco do mercado deve continuar sendo a pressão inflacionária. Como demonstrado nos últimos indicadores de inflação divulgados por aqui, o aumento nos preços tende a seguir acima do esperado em fevereiro, o que contribui para as perspectivas de aperto monetário ainda mais severo por parte do Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) em sua próxima reunião, que vai ocorrer entre os dias 1 e 2 de março.
 
"A ata da última reunião do Comitê admitiu cenário inflacionário desfavorável, mas ressaltou que conta com a ajuda do governo, via reajuste dos gastos fiscais. A opinião dos economistas do HSBC aponta para uma elevação de 0,75 ponto percentual na Selic na próxima reunião, seguida por outra elevação de 0,50 ponto percentual na reunião subsequente do Comitê", destacou o HSBC em sua carteira para este mês.
 
Em linha, a equipe da Gradual Investimentos destacou o aumento do ritmo inflacionário como o "fator de estresse" para o mercado brasileiro no segundo mês deste ano. "A tendência é de continuidade da elevação da taxa básica de juros no curto prazo, com impacto negativo na evolução do crédito e do consumo doméstico", avaliou a corretora em relatório.
 
O consenso é que possíveis novas medidas do governo poderão comprometer o poder de compra dos consumidores e consequentemente afetar os resultados das companhias. "Por isso, vimos que as ações de construtoras, consumo e de bancos, as mais afetadas com essas medidas, no centro das atenções. Para se ter uma ideia, as ações desses setores tiveram quedas de 11,8%, 9,4% e 8,4% no mês, respectivamente, ao passo que o Ibovespa cedeu 3,9%", destacou a XP Investimentos.
 
A Spinelli, por sua vez, lembrou que é esperado para o dia 14 de fevereiro um decreto de contingenciamento com corte de gastos do governo para tentar reduzir o déficit público. Cabe lembrar que recentemente o FMI (Fundo Monetário Internacional) divulgou relatório afirmando que o Brasil teve uma deterioração ‘brusca” nas contas fiscais, impedindo o País de atingir a meta do superávit primário. De acordo com o documento, a deterioração seria uma consequência do relaxamento da política fiscal, acompanhado da rigidez da política monetária. Na ocasião, o ministro da Fazenda Guido Mantega reagiu às críticas feitas. Para ele, a conclusão é equivocada e deve ter sido feita por um "velho ortodoxo".
 
Indicadores dos Estados Unidos
No front internacional, os indicadores econômicos norte-americanos deverão dar um tom mais otimista para o mercado, reforçando a perspectiva de recuperação da economia dos Estados Unidos, ainda que em um ritmo insuficiente para reduzir a elevada taxa de desemprego do país.
 
"A bateria de resultados corporativos veio em linha com as projeções, diferente do terceiro trimestre de 2010, em que as companhias surpreenderam positivamente todos os mercados. Mas essas notícias negativas foram sobrepostas por indicadores positivos da economia americana e perspectivas favoráveis para a recuperação econômica mundial nesse ano, ainda que sem maior convicção", destacou a XP.
 
A cena macroeconômica mais favorável nos Estados Unidos, segundo a Gradual, tem influenciado na decisão dos investidores estrangeiros em retirar recursos da bolsa brasileira, dando mais força para que o Ibovespa mantenha em fevereiro a tendencia de descolamento em relação aos mercados norte-americanos.
 
A equipe de economistas do HSBC destacou que os consumidores dos Estados Unidos deverão reagir positivamente aos salários mais altos e as empresas deverão gastar mais em novos equipamentos, ainda que por antecipação de investimentos que seriam feitos no futuro. "Porém, o ritmo da recuperação ainda deve ser bastante inferior ao patamar histórico, dado o elevado nível de endividamento das famílias".
 
China: quando será hora do aperto?
No cenário externo, as preocupações em relação à crescente inflação na China seguirão influenciando o humor dos investidores em fevereiro.  Vale ressaltar que nesta semana o primeiro-ministro do país, Wen Jiabao, reiterou que o governo implementará “resolutamente” medidas para controlar o setor imobiliário e a demanda especulativa por moradia, assegurando seu compromisso em manter a estabilidade dos níveis de preços na China e evitar uma forte escalada da inflação.
 
As informações foram publicadas pela agência de notícias local Xinhua, voltando a levar o foco às medidas de aperto da China, embora o fato de o anúncio não ter sido feito antes do feriado do Ano Novo e o desempenho do setor industrial abaixo do esperado em janeiro tenham abafado um pouco o temor de juros mais altos por lá.
 
Contudo, assim como no Brasil, a inflação segue preocupando por lá. "A inflação [na China] poderá voltar aos patamares de 5% a 6% em base anual. Fatores como os maiores gastos com o Ano Novo chinês, os altos preços globais de commodities e, também, o contínuo aumento da oferta de crédito serão os principais responsáveis por esta maior pressão inflacionária de curto prazo, apesar dos esforços recentes do governo via políticas monetária e fiscal", afirmou o HSBC.
 
A Spinelli lembrou da possibilidade de aumento na taxa básica de juros chinesa no curto prazo, a fim de frear a inflação do país, "o que representaria uma pitada a mais de pimenta numa receita indigesta para a economia", destacou a corretora.
 
Europa: calmaria com dias contados?
No Velho Continente, as perspectivas de bancos e corretoras são incertas. Apesar de um clima mais estável, depois dos primeiros leilões de títulos de dívida bem-sucedidos por parte de alguns governos europeus, o mercado deve ainda seguir atento à região, que segue fragilizada pela crise fiscal. Cabe mencionar que alguns eventos recentes por lá voltaram a trazer um clima desfavorável aos principais índices da região, como o recente corte do rating da Irlanda.
 
Na última quarta-feira (2), a Standard & Poor’s rebaixou os ratings de longo e curto prazo para a Irlanda, passando de “A” para “A-“ e de “A-1” para “A-2”, respectivamente, além de permanecerem com uma perspectiva negativa. O corte segue a revisão da agência sobre a avaliação de risco do setor bancário irlandês, pressionado pelas incertezas sobre as necessidades adicionais de capitalização do segmento, o qual é amplamente estatizado.
 
"Na Europa, devemos ter a dissolução do governo da Irlanda e a convocação de eleições gerais, onde a oposição deve retomar a maioria. Tendo em vista a postura mais dura deste grupo a respeito das condições do acordo de auxílio financeiro firmado em novembro com União Europeia e o FMI (Fundo Monetário Internacional), é possível que vejamos o retorno do receio a respeito da trajetória fiscal, após a calmaria das últimas semanas", destacou a Ativa Corretora.
 
Protestos no Egito
Além disso, outro forte candidato a mexer com o ânimo dos mercados ao longo do mês é o noticiário vindo do Egito. Isso porque o claro acirramento das tensões políticas no país, após dias marcados pela morte de diversos manifestantes, levou o mercado a adotar um tom mais cauteloso sobre os possíveis desfechos e consequências dos eventos tanto para o país quanto para o mundo árabe em geral.
 
Embora a Irmandade Muçulmana, principal partido da coalizão islâmica e antigamente grupo com práticas violentas, tenha afirmado que não irá parar de protestar até que o presidente Hosni Mubarak renuncie, as chances de um extremista islâmico assumir o poder são pequenas, assim como as chances de que se feche o canal de Suez e de que os tumultos se espalhem para países grandes produtores de petróleo da região, de acordo com a MCM. Enquanto isso, a perspectiva é de que o clima seguirá de cautela entre os mercados.
 
Fonte: web.infomoney.com.br | 04.02.11

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