Publicado por Redação em Notícias Gerais - 27/05/2015

Cunha sofre derrota na Câmara e não consegue aprovar sua reforma política

Reforma política é votada

Presidente fez manobra nesta segunda-feira para aprovar a eleição por meio do 'distritão'

A proposta de mudar o sistema eleitoral brasileiro para o polêmico distritão, defendida pelo presidente da Casa, Eduardo Cunha, e criticada por cientistas políticos, foi derrotada na noite dessa terça-feira. A forma de eleger deputados e vereadores, portanto, continuará a mesma. A mudança foi a primeira proposta da reforma política a ser votada pelos deputados.

Ainda na madrugada desta quarta-feira, eles também decidiram pela não inclusão na Constituição Federal do financiamento empresarial de campanhas, outro ponto defendido por Cunha. A votação sobre o tema continua nesta quarta e se decidirá se o financiamento de pessoas físicas será permitido ou se só valerá o governamental, como defende, por exemplo, o PT.

Por 267 votos contrários e 210 favoráveis, o distritão não conseguiu os 308 votos necessários (três quintos da Casa) para que se alterasse a Constituição. Pelo modelo, cada Estado seria considerado um “distrito” (por isso era chamado de distritão) e seriam eleitos os deputados e vereadores com maior número de votos, na ordem. Isso, dizem os defensores da mudança, evitaria distorções como o fator “puxador de voto”, causadas pelo atual sistema proporcional, onde um candidato com grande número de votos elege candidatos menos votados de sua coligação.

A medida, entretanto, é vista com restrição por especialistas, que consideravam que ela enfraquecia os partidos políticos e encarecia as campanhas porque, para ser eleito, um candidato precisaria ter mais visibilidade. Uma petição contrária a ela, assinada por 177 cientistas políticos, foi encaminhada a Cunha na última semana. “O distritão é primitivo, burro”, disse o professor de ciência política da USP, Fernando Limongi, um dos signatários.

Apesar das restrições apontadas pelos especialistas, Cunha costurou um acordo durante toda essa segunda-feira para tentar aprovar a proposta. Para alguns analistas, ele seria um dos grandes beneficiários, pois tem uma grande quantidade de votos em seu Estado e recebe muita verba de financiamento. “A grande vantagem do distritão é facilitar a sobrevivência dos próprios políticos, principalmente os do PMDB, que já não têm estrutura partidária nenhuma", explicou Carlos Pereira, professor de ciência política da FGV-Rio.

Na própria segunda, ele acordou com líderes dos partidos que enterraria a comissão especial formada para discutir a Proposta de Emenda à Constituição sobre a reforma política. O grupo, que por três meses ouviu especialistas sobre as reformas, deveria votar o relatório do deputado Marcelo Castro (PMDB-PI), que apesar de ter sido indicado por Cunha era contrário ao distritão. No entanto, o presidente da comissão, Rodrigo Maia (DEM-RJ), favorável ao distritão, adiou a sessão que aconteceria na segunda e, depois, a cancelou. Nos bastidores se dizia que a proposta, muito provavelmente, teria parecer contrário da comissão especial, o que poderia influenciar a opinião de deputados na votação do Plenário, marcada para essa terça-feira. Na reunião de líderes ficou decidido que a matéria seria votada apenas no Plenário e o próprio Maia apresentou um novo relatório, em que defendia a proposta.

Nesta terça-feira, Cunha respondeu às críticas de que teria dado um “golpe” para aprovar a proposta que defendia. “A decisão do colegiado de líderes que quis trazer a matéria para discutir hoje não visou a subtrair o trabalho de quem quer que seja. E, sim, ter um ordenamento que permitisse o destaque para que todas as preferências sejam postas em discussão. A decisão não foi da presidência [da Câmara] e, sim, do colégio de líderes”, disse ele, antes da votação. Cunha fez questão de ressaltar, entretanto, que não aprovar a proposta significaria “votar no modelo que existe hoje”. Além da proposta do distritão, já haviam sido derrotadas as propostas de voto fechado em lista, defendida apenas pelo PCdoB, e a do voto distrital misto, defendida pelo PSDB.

O resultado da votação sobre o distritão, entretanto, permanecia uma incógnita até o momento do resultado. Não se sabia qual seria o tamanho da influência de Cunha diante dos parlamentares. Dois partidos, o PSDB e o DEM, liberaram seus deputados para votarem como quisessem, o que dificultava as contas. E, para confundir ainda mais o quadro, o PCdoB orientou que seus parlamentares votassem favoravelmente à proposta, apesar de há apenas seis dias tê-la chamado de “retrocesso”. Depois da derrota do distritão, também foi reprovada a mudança para o modelo distritão misto, um quarto tipo, que misturava o distritão e o proporcional, que é o atual. Entenda as diferenças entre os quatro modelos aqui.

A derrota foi comemorada pelos deputados de esquerda. Chico Alencar (PSOL-RJ), que no dia anterior chamou de "golpe" a manobra de Cunha, disse em seu Twitter: "O poder não pode tudo o tempo todo".

O resultado acabou emperrando a reforma política já no primeiro ponto. Para os especialistas, entretanto, o modelo atual, com o voto proporcional, é o melhor dentre os apresentados. “É muito raro haver um caso de puxador de voto forte. A norma não é essa. Nosso sistema permite a transferência de votos. Você vota em alguém e, se a pessoa foi sobrevotada ou subvotada, seu voto é aproveitado por outro candidato”, explica Limongi. “É um sistema que permite aproveitar o voto do eleitor.”

As votações da reforma política devem acontecer até a próxima quinta-feira, na seguinte ordem: financiamento de campanha, fim da reeleição, tempo de mandato, coincidência ou não das eleições municipais com as estaduais e federais, cota para as mulheres, fim das coligações eleitorais para deputados e vereadores, entre outros.

Nesta quarta, os deputados retomam às 12h a discussão sobre as demais propostas de financiamento que serão permitidas. Primeiro, decidem se só valerão as doações de pessoas físicas e do Governo. Caso a proposta também saia derrotada, definem se o financiamento só será público. Se, ao final, nada for aprovado, tudo continua como é hoje. O financiamento empresarial, entretanto, corre o risco de deixar de ser permitido. Hoje, apesar de ocorrer amplamente, o modelo não consta na Constituição e, por isso, o Supremo Tribunal Federal discute sua constitucionalidade. Deputados favoráveis a ele tentavam incluí-lo antes do parecer final dos ministros (seis já votaram pela inconstitucionalidade). A votação está parada há um ano.

Fonte: El País Brasil


Posts relacionados

Notícias Gerais, por Redação

A partir de janeiro, SP terá 140 linhas de ônibus circulando de madrugada

'Corujão'. Serão 430 veículos, em dois sistemas: um percorrerá o traçado do metrô e outro funcionará de forma circular, em bairros com maior demanda, como a Vila Madalena; Prefeitura ainda promete reforçar a iluminação em mais de 100 pontos de conexão

Notícias Gerais, por Redação

Ibovespa opera em alta, aos 59 mil pontos

Às 10h27 (horário de Brasília), o índice paulista avançava 1,58%, aos 59.245 pontos.

Notícias Gerais, por Redação

Desembolsos do BNDES caem 28% em 2011 e banco reduz estimativas

Os desembolsos do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) atingiram R$ 91,8 bilhões de janeiro a setembro deste ano, valor 28% menor que os R$ 128 bilhões liberados no mesmo período de 2010.

Notícias Gerais, por Redação

Técnica menos invasiva garante marcapasso para recém-nascido

Brayan Alves Farias, de sete meses, começou sua vida em sério risco. Enquanto ele ainda estava no útero, um ultrassom revelou que seu coração tinha um bloqueio elétrico, isto é, batia muito mais devagar (60 batimentos por minuto) do que o ideal (cerca de 120 bpm).

Deixe seu Comentário:

=