Publicado por Redação em Saúde Empresarial - 09/10/2013

Inovação é dilema para indústria médica brasileira

Inovar e crescer não deveriam ser conceitos mutuamente exclusivos. Em territórios como o da tecnologia da informação (TI), é quase regra que as companhias mais inovadoras, ao revolucionar o mercado, aumentem de tamanho – e receitas – rapidamente. Pequenas empresas, nascidas em garagens pelas mãos de jovens idealistas, são capazes de concorrer com as grandes justamente agregando valor pela inovação. No Brasil, no entanto, ao menos para a maior parte da indústria de equipamentos médicos, a infeliz escolha está entre subsistir ou morrer.

Dados da Associação Brasileira da Indústria de Artigos e Equipamentos Médicos, Odontológicos, Hospitalares e de Laboratórios (Abimo) mostram que, atualmente, cerca de 60% das empresas brasileiras do segmento são micro, pequenas e médias, sendo que destas quase 70% são familiares. “A equação é muito simples: para a empresa crescer ela precisa ser inovadora, e para ser inovadora deve estar consolidada no mercado”, explicou o presidente executivo da associação, Paulo Henrique Fraccaro.

Para o executivo, as PMEs brasileiras que decidem inovar acabam consumindo todos os seus recursos no desenvolvimento de novos produtos e não investem em estruturas comerciais e de marketing. “É triste ver uma empresa ganhadora de vários prêmios, mas de um produto só, que não consegue deslanchar na mesma velocidade em que foi reconhecida e tem que vender aquela ideia para uma multinacional”, lamentou Fraccaro.

Para mudar esse cenário e fortalecer a indústria nacional, a UBM, multinacional em mídia de negócios, e a Abimo realizaram a segunda edição da MD&M Brazil*, feira de tecnologia para a fabricação de equipamentos médicos e odontológicos. Expositores nacionais e estrangeiros se reuniram com dois objetivos: fazer negócios e fortalecer a capacidade produtiva nacional em um mercado global que alcançou US$ 325 bilhões em 2011.
 

Dificuldades

Boa parte dos debates durante a MD&M se concentraram sobre os entraves para a inovação na indústria médica brasileira. O presidente do conselho da Braile Biomédica, Domingo Braile, foi categórico: “Não só é possível inovar no Brasil, como devemos inovar para sobreviver”, disse o fundador da empresa especialista em dispositivos cardiológicos.

Para ele, parte do problema da inovação no País passa pela distribuição da pesquisa entre universidades e indústrias. Enquanto em países como Estados Unidos, Japão e Alemanha o número de estudos desenvolvidos nas empresas é substancialmente maior do que as subsidiadas pelo governo e universidades, no Brasil essas últimas concentram 90% do esforço, e o conhecimento não é transferido para a iniciativa privada. “O lugar da inovação é a empresa”, diz Braile.

O professor titular e coordenador do curso de Engenharia Biomédica da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Paulo Roberto Pialarissi, disse que a dificuldade em inovar não é exclusiva do Brasil, mas a taxa de formação no País de engenheiros biomédicos, capazes de construir máquinas utilizáveis em organismos, é muito baixa. “Se tivéssemos um capital humano maior poderíamos melhorar a qualidade e a manutenção dos equipamentos e a população teria melhores condições de saúde e vida. Mas para isso precisamos ter um ecossistema de inovação”, afirmou.

O professor e diretor-geral da Protec – associação civil de fomento a inovação tecnológica nacional -, Roberto Nicolsky, disse que parte do caminho para a inovação é evitar a armadilha de “tentar reinventar a roda”. Para ele, as invenções realmente disruptivas são as incrementais, ou seja, aquelas que aperfeiçoam um produto já criado, e não as radicais, que demandam muito mais tempo e investimento. “São aperfeiçoamentos que agregam valor e viabilizam a competitividade dos produtos”.
 

Financiamento

O financiamento para inovação na indústria de equipamentos médicos também é uma das dificuldades do setor. O gerente setorial da área industrial do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), André Landim, detalhou o Plano Inova Saúde Equipamentos Médicos, programa conjunto entre o banco, o Ministério da Saúde e a Agência Brasileira de Inovação (Finep).

A iniciativa, que desde junho seleciona empresas brasileiras interessadas, destinará R$ 600 milhões em financiamentos para inovação no segmento – e surge como alternativa às modalidades de obtenção de fundos já oferecidas por essas instituições. Segundo o gerente, a maior parte dos projetos propostos ao BNDES para o Plano (43%) referia-se a ampliação e modernização. “Talvez devido à frágil competitividade brasileira, o financiamento à inovação no setor é, até agora, pequeno”.

O chefe do Departamento do Complexo da Saúde da Finep, Victor Odorcyk, apresentou os resultados preliminares do Inova Saúde. A demanda inicial foi mais de duas vezes superior ao orçamento previsto, com 145 cartas de manifestação de interesse encaminhadas por empresas. Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) e equipamentos eletromédicos e odontológicos foram responsáveis pela maioria dos projetos (70 e 58 respectivamente), seguida por diagnóstico in-vitro e por imagem (34) e a de dispositivos implantáveis (32).
 

Setor

Apesar dos percalços para pequenas e médias fabricantes de equipamentos médicos no Brasil, a produção da indústria médica brasileira atingiu R$ 4,8 bilhões em 2012, 10,2% mais que em 2011. Segundo os resultados apresentados pela Abimo e pela Fundação Getúlio Vargas, os ganhos de produtividade foram de 5% ao ano no período entre 2007 e 2012, acima dos 4% registrados pela indústria de transformação, mostrando o potencial do setor. O investimento total do setor em 2012 foi de R$ 307 milhões, ou cerca de 13% do PIB setorial (R$ 2,4 bilhões).

No entanto, disse Fraccaro, os resultados poderiam ser ainda melhores caso hospitais públicos e filantrópicos pudessem adquirir equipamentos nacionais com a mesma isenção concedida aos importados. A isonomia tributária é, há anos, a principal bandeira da Abimo e é defendida para reduzir a dependência brasileira de equipamentos médicos importados – o déficit nesta balança comercial passou de US$ 1,7 bilhão em 2007 para US$ 3,7 bilhões em 2012.


Incentivo local

Uma parceria entre Secretaria de Desenvolvimento de São Paulo, Prefeitura Municipal de Ribeirão Preto, Abimo e Sebrae-SP, entre outros fomentadores, resultou na criação do projeto para o desenvolvimento do Arranjo Produtivo Local (APL) da Indústria de Equipamentos Médicos, Hospitalares e Odontológicos (EMHO), na cidade do interior do estado. O complexo da saúde reunia 69 PMEs até o fim de 2012.

O plano inclui parcerias com entidades locais para entender a cultura das empresas, reduzir a lacuna em termos de boas práticas e transmitir fundamentos de excelência de gestão e qualidade. Em um segundo momento, por meio do SebraeTec, oferece consultoria tecnológica para avaliação e adequação de processos. O objetivo final é reforçar a competitividade das empresas.

Segundo o consultor do Sebrae-SP, Marcelo Caetano Alves, a meta é que as empresas de pequeno e médio porte do APL estejam aptas para ir ao mercado e crescer de forma sustentável, criando uma cultura corporativa de inovação e superando resistências burocráticas. Para facilitar o acesso a este mercado, a consultoria subsidia inclusive a participação destas companhias em feiras nacionais e no exterior, “tendo a internacionalização como estratégia competitiva”, disse. “Não há como pensar o mercado de saúde sem pensar no mercado externo. Queremos que as empresas brasileiras estejam fortes para competir.”

A Kidopi, empresa integrante do APL de Ribeirão, recebeu em agosto um prêmio da Organização das Nações Unidas (ONU) na categoria e-Health & Environment. Fundada por ex-alunos do curso de Informática Biomédica do campus de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP), a Kidopi atua na área de gestão hospitalar inteligente e informatização de clínicas e consultórios. O projeto premiado é o HealthBI, ferramenta de business intelligence para que gestores acessem indicadores em tempo real.

* O MD&M Brazil ocorreu durante os dias 27 e 28 de agosto, em São Paulo (SP)

 

Fonte: http://saudeweb.com.br

 


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