Publicado por Redação em Notícias Gerais - 01/10/2015

O petróleo muda de mãos

Há uma mudança de paradigma da Opep, por conta de os Estados Unidos terem se transformado no maior produtor de petróleo do mundo

A autossuficiência dos Estados unidos e a queda do preço do barril exigem novas estratégias

Quando o pré-sal foi anunciado, o barril de petróleo superava o valor de 100 dólares. Quase uma década depois, a realidade do setor de óleo e gás mudou drasticamente. O preço no mercado internacional do ouro negro está na casa dos 50 dólares. Diante da guerra entre a Opep e os Estados Unidos, levará um tempo para se aproximar novamente do antigo patamar.

Nova perspectiva, novos desafios. O Brasil, um dos 15 maiores produtores do mundo, tende a galgar posição e entrar no top ten, além de se tornar um exportador relevante. Enquanto isso, a demanda se concentrará cada vez mais na Ásia, particularmente na China. Para alcançar esse patamar, o País terá antes de superar os percalços da Operação Lava Jato, que atingiu em cheio as maiores empreiteiras, e o endividamento da Petrobras.

A tarefa exige maior eficiência da cadeia produtiva e cria a oportunidade para a indústria brasileira ganhar espaço com os investimentos bilionários previstos. “A Operação Lava Jato apertou o quadro, mas a conjuntura internacional é o grande desafio do setor nos próximos anos”, afirma o advogado João Almeida, do Demarest Advogados.

Estudo dos professores Cleveland Jones e Hernani Chaves, do Instituto Nacional de Óleo e Gás da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, estima em ao menos 176 bilhões de barris os recursos não descobertos e recuperáveis de petróleo e gás na área do pré-sal que abrange os estados do Espírito Santo, Rio de Janeiro e São Paulo. Haveria campos de 240 milhões de barris a megacampos, com 5,9 bilhões.

“O Brasil desponta como um dos maiores produtores futuros de petróleo competitivo no mundo. O custo de extração do pré-sal de 9 dólares é similar àquele da Arábia Saudita, mas há um risco de que boa parte possa ficar no subsolo, pois a capacidade de investir na produção terá de ser muito maior que a atual”, aponta Jones. As descobertas até agora, estimadas em 40 bilhões de barris, estão incluídas no valor projetado.

Segundo Alexandre Szklo, professor de planejamento energético da Coppe, centro de pesquisa ligado à Universidade Federal do Rio de Janeiro, os preços atuais lançam nuvens sobre as projeções de exploração do pré-sal. Em 2012, uma simulação da universidade apontou que a exploração na camada era viável a 55 dólares. Agora o valor estaria entre 40 e 45 dólares.

A queda é reflexo da alta produtividade dos poços, que têm produzido 40 mil barris por dia, acima dos 25 mil anteriores, e da queda de demanda, que tem desaquecido o custo de afretamento e a produção de sondas e plataformas. “Se o preço se mantiver por longuíssimo tempo nessa faixa, acende-se um sinal vermelho. O Brasil tem grandes reservas, mas o que conta não é ter estoque, é ter ritmo de produção para viabilizá-lo. Esse é o desafio.”

Atualmente, apenas nos campos com contratos assinados e licitados, há cerca de 30 bilhões de barris recuperáveis. Simulações da Coppe estimam que o excedente de exportação em 2025 tenderia a alcançar 1,5 milhão de barris por dia, com a capacidade atual de refino estagnada em 2,5 milhões de barris processados diariamente, por causa da recente intenção da Petrobras de reduzir os investimentos na área. O País exportou cerca de 500 mil barris por dia no ano passado. “O grande desafio de chegar a esses 1,5 milhão de barris em 2025 é a ‘unitização’ dos campos licitados.”

A unitização é prevista pela legislação brasileira e consiste na definição de quanto do petróleo cada concessionária tem direito em caso de reservas que ultrapassam várias áreas de concessão. Atualmente, há 20 processos em negociação. Um exemplo é a área de Carcará, na Bacia de Santos, onde a Petrobras é operadora e sócia majoritária. O espaço por onde a reserva de óleo extrapola o atual contrato deve ser incluído em um leilão futuramente.

No caso dos campos do pré-sal, existem poços que foram concedidos pela Lei nº 9.478 de 1997, outros pelo regime de partilha e pelas regras de licitação dos campos do pré-sal em 2010. “Um caso de unitização levou mais de um ano para ser resolvido. Isso pode trazer atrasos para a expansão da produção brasileira, porque são megacampos e envolvem regimes tributários diversos”, afirma Szklo.

Sócio de auditoria do Centro de Energia da E&Y, Roberto Santos acredita que o momento atual tem reduzido o interesse de investidores, mas a província continua no radar no médio e longo prazo em um contexto de queda dos preços. “Há uma mudança de paradigma da Organização dos Países Exportadores de Petróleo, por conta de os Estados Unidos terem se transformado no maior produtor de petróleo do mundo, pela primeira vez, desde 1975, e em consequência do menor ritmo de crescimento da China, que responde por 15% do consumo mundial.”

A conjuntura geopolítica tem sido drasticamente alterada. Do lado da oferta, 2014 marcou uma inflexão. Segundo o anuário da British Petroleum publicado recentemente, pela primeira vez a Arábia Saudita e a Rússia foram desbancadas da liderança mundial de produção de petróleo pelos EUA. A exploração de gás não convencional provocou uma revolução na economia americana e mudou a formação de preços no mercado mundial.

O acesso aos hidrocarbonetos em formações rochosas fez a produção de petróleo norte-americana pular de 5 milhões de barris por dia em 2008 para quase 12 milhões seis anos depois. Em 2007, antes do início da crise econômica mundial, os Estados Unidos registravam déficit em contas correntes de 5% do PIB, metade provocada pelas importações de petróleo. Sete anos depois, a história é outra: as importações representam apenas 1% do PIB, cuja produção interna atende a 90% da demanda de energia.

Além de melhorar as contas externas, a exploração de gás não convencional tem atraído diversas indústrias para os EUA, de olho no preço do gás, que chega ao consumidor a 4 dólares o milhão de BTUs, enquanto no Brasil as indústrias chegam a pagar mais de três vezes esse valor. Teme-se uma reorganização planetária dos investimentos na cadeia química e petroquímica, que poderá fincar bandeiras cada vez mais sólidas na América do Norte. A produção de etileno está em 27 milhões de toneladas nos Estados Unidos e deve ter um acréscimo de 11 milhões nos próximos cinco anos. No Brasil, a produção está em 4 milhões de toneladas.

Fonte: Carta Capital


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