Publicado por Redação em Notícias Gerais - 29/07/2011

Regiões nobres de SP consomem até cinco vezes mais água que a periferia

SÃO PAULO – Os moradores da região da represa Guarapiranga (zona sul da capital paulista) são responsabilizados pela poluição das águas  da represa e, indiretamente, pela crise de abastecimento de água que ameaça a Grande São Paulo. Pois foi justamente a desconstrução dessa ideia que motivou o pesquisador Frederico Bertolotti.
 
Para ele, na verdade, a crise não é um problema apenas ecológico, mas também social, e existem ao menos três outros fatores importantes para compreendê-la.
 
O primeiro é justamente o consumo desigual entre os bairros, pois regiões nobres, como Pinheiros e Perdizes, consomem até cinco vezes mais água do que a periferia. "Inclusive, os moradores das regiões próximas à Guarapiranga sofrem com falta de água. É irônico. Justo quem mora perto da fonte de água tem dificuldade em consumi-la", salienta Bertolotti à Agência USP.
 
Além disso, o tipo de consumo  entre os bairros é qualitativamente diferente. "Em bairros nobres, utiliza-se água em fontes, piscinas, em um número maior de banheiro, além do uso básico. Na periferia, o uso é quase exclusivamente para fins essenciais".
 
Falta de saneamento básico e desperdício
Os outros dois fatores são a carência de saneamento básico nas áreas de mananciais e o desperdício de água dentro do próprio sistema operacionado pela Sabesp.
 
"Na região da Gaurapiranga, apenas 54% das residências possuem coleta de esgoto. E destes, cerca de 80% retornam à represa sem tratamento, por não existirem sistemas de escoamento e nem capacidade de tratamento do esgoto coletado na região", revela o pesquisador.
 
Ampliando a análise para toda a metrópole, percebe-se que 82% das moradias possuem coleta de esgoto. Desse total, apenas 59% recebem tratamento e o restante é despejado em diferentes cursos d'água.
 
Além disso, Bertolotti alerta que são perdidos 20,8 metros cúbicos de água por segundo. "As perdas são de 31%, segundo dados da própria empresa, e ocorrem por vazamentos e ligações irregulares", acrescenta.
 
"Periferização"
Outro ponto abordado pelo estudo é que a periferização é um processo mundial das cidades. "A cidade é negada ao trabalhador empobrecido. Com isso, conforme há valorização de áreas periféricas, os antigos moradores, que não conseguem pagar um aluguel ou comprar um imóvel, vão habitar regiões cada vez mais distantes do centro", avalia.
 
Porém, ele mostra que não são apenas as classes mais pobres que moram na região da represa. "Lá existe um bairro fechado, a Riviera Paulista, onde existem casas luxuosas. É comum ver os moradores desse bairro velejarem e andarem de jet-ski em uma margem da represa. Na outra, os moradores mais pobres se divertem de outras maneiras".
 
Histórico
As represas Billings e Guarapiranga não foram construídas para o abastecimento de água, mas, sim, para geração de energia elétrica.
 
"No início do século 20, sanitaristas defendiam que elas deveriam abastecer a região. Porém, o setor hidroenergético, representado pela empresa Light, queria gerar energia. Prevaleceu o desejo da empresa", conta Bertolotti.
 
Ele ainda acrescenta que "a empresa não tratava o esgoto por interesse. Se a água estivesse suja, não seria utilizada para abastecimento e um maior volume seria empregado na geração de energia".
 
Atualmente, a Billings possui uso misto, contribuindo com 5% do consumo de energia da Região Metropolitana de São Paulo. "Uma das propostas que faço", diz o pesquisador, "é de utilizar essa água para abastecimentos e buscar esses 5% de energia em outro lugar".
 
Sobre a pesquisa
Bertolotti estudou o crescimento urbano na região da represa por meio de observações de campo, leitura de textos e análise de dados oficiais de 2006 de diversos órgãos. Entre eles, estão a ONG Instituto Sociambiental, a Sabesp, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica).
 
O estudo foi defendido em fevereiro de 2011 como dissertação de mestrado na FFLCH-USP (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo), sob orientação de Ana Fani Alessandri Carlos.
 
Fonte: web.infomoney.com.br | 29.07.11

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