Publicado por Redação em Notícias Gerais - 15/01/2015

Crédito público deve dar lugar a captações

Ofertas de títulos de dívida devem crescer a partir do segundo trimestre, diz Le Grazie, da Bradesco Asset Management A esperada redução da presença dos bancos públicos no crédito deve abrir espaço para uma maior atividade do mercado de capitais em 2015. Apesar do cenário difícil para a economia, a expectativa é de um aumento nas captações de recursos com emissões de títulos dedívida, como debêntures, ao longo do ano. A menor atuação das instituições públicas pode trazer, contudo, um efeito colateral: a elevação dos juros pagos pelas empresas nas captações.

Se para os emissores essa é uma má notícia, os investidores veem a tendência de aumento nos spreads decrédito como a correção de uma distorção no mercado brasileiro. As captações locais somaram R$ 141,7 bilhões em 2014, alta de 7,6% em relação ao ano anterior. Estima-se, porém, que apenas um terço desse volume tenha chegado aos investidores. A maior parte das operações fica encarteirada pelos bancos, públicos e privados, que concedem crédito via emissão de debêntures, isentas do imposto sobre operações financeiras (IOF). Esse quadro não deve mudar radicalmente no curto prazo, já que as instituições detêm uma posição confortável de liquidez para carregar as posições nos balanços.

Mas a redução da oferta de recursos a custos subsidiados tende a impor uma correção nas taxas e estimular as operações "puro sangue" de mercado. O baixo spread de crédito é apontado como um dos entraves ao desenvolvimento do mercado de capitais local. Os prêmios de risco nas operações, que historicamente já eram baixos, chegaram ao piso em 2012 e 2013. Foi quando houve aumento dos recursos das instituições públicas e da demanda por papéis privados pelos investidores diante da queda da Selic, para 7,25% ao ano à época. "Em um determinado ponto, já não fazia diferença ter na carteira um papel privado de rating A ou B", diz um gestor de fundos.

As taxas nas captações já vêm subindo desde o fim do ano passado, diante da piora nas condições de mercado. Pelo menos seis empresas sondaram bancos com o objetivo captar recursos, incluindo as elétricas Cemig, Copel e EDP, além da rede de laboratórios Dasa, conforme apurou o Valor. A dificuldade das instituições que coordenam as operações está justamente em avaliar a que taxa levar as ofertas adiante. "Os bancos públicos, que atuaram no passado recente para não deixar o spread subir, agora devem ter uma ação limitada", afirma o executivo de um concorrente privado.

Empresas que tradicionalmente se valem do financiamento via debêntures, como a subsidiária de geração e transmissão de energia da Cemig, já pagaram mais caro em suas últimas emissões. A perspectiva de alta de juros nos Estados Unidos com a recuperação da economia americana pressiona os mercados emergentes como um todo. "Está ocorrendo agora o que era esperado para o início do ano passado", diz Reinaldo Le Grazie, diretor superintendente da Bradesco Asset Management (Bram).

O movimento externo e os problemas fiscais no Brasil pressionam ainda mais o cenário para as captações locais. Com o desempenho fraco da economia, a demanda por recursos por parte das empresas também cai. Mas a tendência é que a situação se reverta a partir do segundo trimestre, tão logo o mercado se convença da efetividade dos ajustes realizados pela nova equipe econômica, segundo Le Grazie. Mesmo com taxas mais "gordas", os fundos de investimento, grandes detentores de debêntures, por enquanto devem se concentrar em emissões de prazo mais curto e de baixo risco. "Com a taxa de juros nos patamares atuais e a incerteza nos mercados, ainda não é hora de arriscar", diz um gestor de fundos de crédito, que pediu para não ser identificado. A MRS Logística será uma das primeiras companhias a "testar as águas" do mercado neste ano.

A companhia prepara uma captação de até R$ 675 milhões em debêntures de infraestrutura. O alvo são pessoas físicas, que contam com isenção de imposto de renda no investimento. Com prazo de sete e dez anos, os papéis da MRS devem render juros de 0,20% a 0,35% ao ano além do rendimento do título público corrigido pela inflação (NTN-B) de vencimento equivalente. A remuneração final pode ser menor dependendo da demanda do mercado. Com a rentabilidade adicional proporcionada pelo benefício fiscal, emissões de "bons nomes" devem encontrar boa procura entre os investidores, afirma João Albino Winkelmann, diretor da área de alta renda (private) do Bradesco.

"A debênture de infraestrutura é um produto que desperta grande interesse entre os clientes", diz. A perspectiva de redução dos desembolsos do BNDES deve fazer com que uma parcela maior das ofertas de infraestrutura venha a mercado, segundo o executivo. O próprio banco de fomento tem defendido uma maior participação de financiamento à infraestrutura via mercado e prepara a criação de um fundo para aplicar em papéis incentivados. As debêntures podem ficar ainda mais atrativas caso o governo leve adiante a iniciativa em estudo de acabar com a isenção fiscal nas letras de crédito imobiliário e do agronegócio (LCI e LCA), segundo o advogado Henrique Filizzola, sócio do escritório Stocche Forbes.

"Os investidores que hoje aplicam nesses produtos teriam de buscar alternativas, e a debênture de infraestrutura pode ser um dos destinos", afirma. Até o momento, as emissões incentivadas frustraram as expectativas, com volume total de pouco mais de R$ 10 bilhões, em operações concentradas nos setores de concessão de rodovias e energia. "Se surgirem ofertas em outros segmentos, como portos, aeroportos e saneamento, a demanda será grande", afirma Daniel Lemos, diretor de renda fixa da XP Investimentos. Nem mesmo a perspectiva de alta da taxa básica de juros (Selic) para conter as pressões inflacionárias deve prejudicar as captações, segundo Lemos.

"Na nossa visão, o mercado de juros já aponta um aperto monetário até maior do que o necessário", afirma. No ano passado, 276 empresas não financeiras emitiram debêntures, de acordo com dados da Cetip, que concentra o registro dos títulos no mercado brasileiro. O estoque de instrumentos financeiros de captação corporativa atingiu R$ 272,8 bilhões no fim de 2014. O valor representa uma alta de 15% em relação ao ano anterior e corresponde a ofertas de debêntures e notas promissórias.

Fonte: www.aserc.org.br


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